A festa da Bitcoin teve um corte abrupto. A moeda virtual descentralizada, criada há cinco anos, valendo cêntimos de centavos e que chegou a ser cotada por mais de US$ 1.200 no fim do ano passado, sofreu um duro golpe. A japonesa MtGox, maior casa global de câmbio de Bitcoins e referência para cotações, saiu do ar abruptamente na terça-feira 25. Algumas semanas antes, a empresa apresentou problemas e restringiu saques, mas ninguém previu esse desfecho. O empreendedor americano Ryan Selkis, entusiasta da moeda, que tem intenção de lançar um fundo de investimento nessa moeda, publicou um estudo estimando que o MtGox tenha consigo 745 mil Bitcoins, cerca de 6% do total disponível no mercado, ou US$ 400 milhões. 

 

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Já era: o londrino Kolin Burges, investidor de bitcoins, protesta diante da sede

da casa de câmbio MtGox em Tóquio

 

Uma onda de rumores dá conta de que o dinheiro foi furtado, o que virou o mundo do Bitcoin de cabeça para baixo. O CEO da MtGox, Mark Karpeles, não colaborou para dissipar os boatos. “Estamos trabalhando para resolver alguns problemas”, disse ele à BBC, negando-se a informar mais detalhes. Logo em seguida, Karpeles pediu demissão do conselho da Bitcoin Foundation, organização que visa a proteger e promover a moeda. A notícia fez com que um bitcoin passasse a valer cerca de US$ 500 em casas similares de câmbio e deixou centenas de usuários frustrados. O dinheiro digital enfrenta agora um de seus principais testes: o da credibilidade. 

 

“Essa trágica violação da confiança dos usuários da MtGox foi o resultado de ações de uma empresa e não reflete a resiliência ou os valores da indústria do Bitcoin”, disseram em uma declaração outras financeiras que ainda permanecem no grupo, como Coinbase e BTC China. O desafio desse grupo é restaurar a confiança numa moeda estranha desde sua origem. Criada em 2009 por um misterioso homem ou grupo que se apresenta como Satoshi Nakamoto, o Bitcoin é “emitido” periodicamente pelos computadores ligados em sua rede. As moedas podem ser transacionadas entre carteiras digitais dos usuários. Entusiastas defendem que esse sistema livre de instituições governamentais seria uma forma mais justa de fazer transações financeiras. O baque provocado pela MtGox coloca todo esse discurso em xeque. Salvo se Karpeles vier rapidinho a público com o dinheiro de seus clientes – e uma bela justificativa. 

 

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