A estrela cromada de três pontas da alemã Mercedes-Benz é um dos símbolos mais imponentes da indústria automobilística mundial. No Brasil, o emblema domina as estradas há muito tempo, sustentado por uma sólida imagem de qualidade e resistência. Prova disso é que, no primeiro semestre deste ano, um em cada dois ônibus vendidos no País saiu de suas fábricas, segundo a associação das concessionárias, a Fenabrave. No mercado de caminhões, a marca lidera com uma participação de 30%, à frente da compatriota MAN, com 25%, e da sueca Volvo, a terceira colocada, dona de 15%.

Essa reputação no segmento de veículos comerciais, no entanto, contrasta com um histórico tímido desempenho em automóveis de passeio no País. Embora o mercado automotivo brasileiro seja o quinto maior do mundo, ocupa apenas a vigésima colocação no ranking das maiores praças, pelo critério de vendas, da montadora de Stuttgart. Em 2013, foram vendidas 9,4 mil unidades por aqui. No acumulado deste ano, até dezembro, serão cerca de 11 mil automóveis. Na China e nos EUA, a empresa deverá superar o patamar de 300 mil carros em cada país.

“A Mercedes-Benz sempre olhou com muito carinho para o mercado brasileiro, mas por razões de custo preferiu importar, abrindo mão de volume e se contentando em estar bem colocada no segmento premium”, afirma o executivo Dimitri Psillakis, diretor-geral da divisão de carros de passeio no País. Essa postura mudou. Por determinação da matriz, e estimulada pelo programa Inovar-Auto, do governo federal, a Mercedes deverá triplicar suas vendas nos próximos dois anos, equilibrando importação com uma produção local de até 20 mil unidades anualmente.

A fábrica de Iracemápolis, no interior paulista, que receberá investimentos de R$ 500 milhões, começará a produzir já no ano que vem o sedã Classe C, a grande aposta da companhia no mercado local. Seis meses depois, em 2016, será a vez do SUV compacto GLA, que chegará para concorrer principalmente com o Volkswagen Tiguan, o Audi Q3 e a BMW X1. “Com a fábrica em operação, queremos colocar 30 mil carros Mercedes-Benz nas ruas todos os anos, e teremos condições de ampliar se houver necessidade”, afirma Psillakis. “Pode apostar. A partir de 2015, vamos voar no Brasil.” Que a Mercedes-Benz tem condições para decolar no País pouca gente duvida.

Mas, antes de conquistar uma posição confortável, a marca terá de superar o estigma da malsucedida tentativa de emplacar o monovolume compacto Classe A, produzido na fábrica mineira de Juiz de Fora entre 1999 e 2005. A montadora projetava vender 40 mil unidades por ano, mas nunca conseguiu passar de 8,5 mil. “O carro era muito bom, mas não conseguiu conquistar o consumidor naquela época e se tornou um dos maiores tropeços da Mercedes no mundo”, afirma Sarwant Singh, sócio para o setor automotivo da consultoria americana Frost Sullivan. “Mas o timing agora é diferente, o Brasil está mais previsível e o consumidor mais aberto a experimentar marcas de qualidade”, diz Psillakis.

Assim como a Mercedes-Benz, que ampliou suas vendas em 15% neste ano, em um ambiente de retração de 10% das vendas totais de carros zero-quilômetro, as alemãs BMW e Audi se preparam para uma retomada do mercado brasileiro – a primeira com fábrica no município de Araquari, no norte catarinense, com capacidade para 32 mil unidades por ano, e a segunda, que pertence ao grupo Volkswagen, com produção de até 26 mil carros em São José dos Pinhais, no Paraná. “As nossas concorrentes alemãs têm a mesma visão que nós sobre o mercado brasileiro”, afirma Psillakis. “Sabemos que, apesar da recente retração das vendas gerais, o mercado vai voltar a crescer.”