22/02/2013 - 21:00
Espremido entre uma inflação superior a 20% ao ano e a falta de divisas para pagar as importações, o vice-presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, resolveu privilegiar o lado do governo. Na quarta-feira 13, decretou uma maxidesvalorização de 46,5% da moeda venezuelana, o bolívar. A cotação do dólar passou de 4,3 bolívares para 6,3 bolívares. Para o vice-presidente, a medida visa a preservar o sistema cambial venezuelano, que já é controlado pelo governo. “Temos provas de que há agentes econômicos que lançam ataques especulativos contra nossa moeda, contra nosso sistema cambial”, disse Maduro.
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Ele afirmou que a medida conta com o apoio do presidente Hugo Chávez, que continua internado em Cuba para tratamento de um câncer. Se fosse adotada no Brasil, uma medida como essa concederia maior competitividade para a indústria. A Venezuela, no entanto, tem uma produção industrial pequena, e importa pesado. Da demanda total de bens de consumo, 35% são importados. Dos 65% restantes, 52% usam insumos de fora. Nesse cenário, o aumento do dólar vai direto para a inflação. As empresas estrangeiras também serão prejudicadas, já que os recursos que não conseguiram enviar ao exterior por falta de autorização agora valem quase metade do que valiam antes.
Guerra à especulação: o vice-presidente Nicolas Maduro afirma ter provas
de que há ataques especulativos contra o bolívar
A oferta de dólares às empresas será controlada por um novo órgão, que vai avaliar as prioridades antes de permitir a troca, segundo o ministro do Planejamento e Finanças, Jorge Giordani. Na avaliação da consultoria venezuelana Ecoanalítica, o ajuste na cotação do câmbio reduz o valor da dívida interna do governo federal de US$ 42,9 bilhões para US$ 29,9 bilhões, o equivalente a 3,9% do PIB. Além de diminuir a dívida interna, a maxidesvalorização venezuelana também ajuda o governo a aumentar suas receitas: 96% das divisas do país vêm da exportação do petróleo, pago com dólares que agora valem mais bolívares.
Para as empresas brasileiras, o impacto ainda é incerto. No ano passado, o Brasil exportou para a Venezuela US$ 5 bilhões, em alimentos e produtos industrializados, e importou US$ 1 bilhão, basicamente petróleo e derivados. “Se fosse em outro país, haveria queda da demanda, pelo encarecimento dos produtos”, diz o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil. Mas, na Venezuela, boa parte das importações é feita pelo governo, que pode segurar os preços. O presidente da Federação das Câmaras de Comércio Brasil-Venezuela, José Francisco Marcondes, nada deve mudar no comércio bilateral. “O efeito deve ser neutro e o fluxo comercial deve aumentar este ano”, diz.