23/05/2012 - 21:00
Iniciado em 2008, o processo de integração da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) gerou a BM&FBovespa, uma das maiores bolsas do mundo, e um pesadelo computacional: a empresa, que concluiu sua unificação formal há pouco mais de dois anos, ainda trabalha com quatro sistemas diferentes de liquidação de ordens. Em português, as informações sobre preços e quantidades negociadas entre investidores – envolvendo transações diárias médias de R$ 7,2 bilhões em ações e de 2,7 milhões de contratos futuros e outros derivativos – são processadas por quatro servidores, que funcionam com linguagens diferentes. O desafio agora é simplificar essa matrix que conhece os humores do mercado com precisão de milésimos de segundo sem provocar um travamento geral nos negócios e, se possível, ganhando competitividade em relação a outros pregões.
Edemir Pinto, CEO: rapidez e exigência de menos garantias
para barrar a concorrência.
“Esse será nosso principal investimento até 2013”, diz Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa. O total investido chega a R$ 1,1 bilhão. Mais do que apenas trocar sistemas e processos, o investimento deverá erguer uma barreira para impedir o acesso às bolsas internacionais que, nos últimos tempos, vêm declarando seu interesse de disputar uma fatia do mercado brasileiro. Nomes como a britânica Bats e a americana Direct Edge já anunciaram essa intenção, e, para dificultar sua chegada, a bolsa quer oferecer dois atrativos inestimáveis para os investidores, como rapidez e preços mais baixos. “Ao unificar os mercados, vamos reduzir a necessidade de os investidores depositarem margens”, diz Edemir. Negociadores intensivos, como tesourarias de banco e gestores de fundos de alta frequência, que realizam milhares de operações por segundo, são obrigados a depositar garantias em dinheiro para poder participar do sistema.
No caso de inadimplência de um deles, essas garantias cobrem parte dos prejuízos e impedem uma quebradeira geral. Como os sistemas atualmente não se comunicam, esses participantes têm de fornecer garantias separadas para cada um dos mercados em que atuam. “A unificação vai permitir que calculemos os riscos de maneira integrada e poderemos exigir menos garantias dos participantes, tornando sua operação mais barata”, afirma Edemir. Os primeiros testes deverão ser realizados no último trimestre deste ano, e o novo sistema deverá entrar em funcionamento na primeira metade do ano que vem, depois de a bolsa conseguir as autorizações do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários. Pelas contas preliminares, será possível reduzir em até 25% a exigência de garantias.