O indiano Ajay Banga, presidente mundial da MasterCard, mostra seu smartphone durante um café da manhã na sede da empresa em Purchase, a 70 quilômetros de Nova York. À primeira vista não há nada especial no aparelho. No entanto, Banga retira a capa de proteção e chama a atenção para um detalhe. Na parte traseira do aparelho está um adesivo azul, que lembra vagamente um magneto de porta de geladeira e que mostra os logotipos do Citibank e da própria MasterCard. A fita azul significa que o aparelho não é um smartphone convencional (que permite conversar e acessar a internet), mas abriga também os cartões de crédito e de débito do executivo. Transmitindo informações por rádio-frequência, o adesivo possibilita que Banga pague contas pelo celular. 

 

O adesivo é uma exceção. A administradora colocou as funções dos cartões de débito e crédito e cartões pré-pagos dentro do celular nos Estados Unidos há pelo menos três anos. A novidade chegará ao Brasil já no primeiro trimestre do ano que vem. “É preciso criar diferentes formas para as pessoas usarem pagamentos eletrônicos e eu acredito no futuro do telefone como meio de pagamento”, disse Banga à DINHEIRO, em sua primeira entrevista a um veículo de imprensa brasileiro.

 

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“A indústria de cartões vai mudar radicalmente em cinco anos “

Gilberto Caldart, da Mastercard do Brasil 

 

Por meio de uma parceria com Redecard, Itaú Unibanco e Vivo, a MasterCard vai permitir que o usuário instale um aplicativo em seu celular. O telefone funcionará como o terminal personalizado do usuário. 

 

Ao acionar o programa com o logotipo da companhia, será possível escolher entre as opções crédito, débito ou pré-pago após o aparecimento das informações sobre o pagamento de uma compra. 

 

A senha garante que o usuário aceita as condições e uma confirmação final completa a operação. Tudo será feito online, com níveis de segurança semelhantes aos utilizados nas transações com os cartões. 

 

“No universo do cartão é preciso olhar para frente. O passado é um bom referencial, mas essa indústria vai mudar radicalmente em cinco anos e queremos estar na dianteira desse negócio, com inovação”, diz Gilberto Caldart, presidente da MasterCard Brasil.

 

Segundo Caldart, a quebra da exclusividade dos terminais vai elevar a fatia dos plásticos nos pagamentos em geral. “Novos segmentos, como saúde, educação, grandes atacadistas e pequenas lojas vão passar a aceitar cartões, e é preciso mais tecnologia para enfrentar essa competição mais acirrada”, diz ele. 

 

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Ajay Banga: ”O telefone é o pagamento do futuro, pois há mais pessoas com celulares do que com contas bancárias”

 

Outras duas tecnologias desenvolvidas pela MasterCard vão desembarcar logo por aqui. No início de 2011, os brasileiros terão acesso ao inControl, sistema eletrônico que realiza alertas de controle de gastos financeiros e identifica ofertas de compras no comércio eletrônico – nos EUA, os clientes do Citibank utilizam esse sistema. 

 

O próximo passo, previsto para o fim do ano que vem, é habilitar o serviço de remessa de dinheiro MoneySend para o mercado brasileiro, para concorrer com empresas como Western Union. 

 

Os lançamentos mostram o crescimento da importância do Brasil para a MasterCard. O País está recebendo tecnologias que já foram testadas em outros lugares antes, o que é um bom sinal. 

 

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Consumidora compra com celular no Japão: 85% dos pagamentos no mundo ainda são com dinheiro

 

Em geral, novas tecnologias são experimentadas antes em mercados menores e menos importantes. Se não funcionar, o dano não é tão grande. No caso brasileiro, os pagamentos via celular já passaram por 25 projetos-piloto ao redor do globo. Só depois de aparar todas as arestas é que a empresa vai implantá-lo no Brasil, que passou a ser um dos principais mercados. 

 

“A MasterCard dedica  um significativo esforço na América Latina, principalmente no Brasil, em razão da baixa penetração do uso de cartões e do grande número de pessoas sem acesso aos bancos”, diz Moshe Katri, diretor de gestão da empresa de pesquisa de mercado americana Cowen and Company LLA.

 

Katri ressalta que o crescimento por meio das transações móveis tem mais potencial do que o avanço tradicional. A migração da MasterCard para meios de pagamento que vão além dos plásticos busca acompanhar as mudanças do mercado. 

 

Nos últimos 50 anos, os únicos meios de pagamento foram o dinheiro, os cheques e os cartões. Na última década, porém, as pessoas se tornaram cada vez mais inseparáveis de seus telefones celulares, relação que despertou o apetite da MasterCard. 

 

Pelos dados da companhia, em 2012 o volume global de pagamentos por celular deve ser de US$ 250 bilhões. Em cinco anos, 4,6 bilhões de pessoas terão celulares, 10% deles smartphones. 

 

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“A penetração do telefone celular é maior que a população bancarizada de muitos países”, diz Walt Macnee, presidente dos mercados internacionais da MasterCard. “Diversificar produtos significa atingir novos consumidores.”

 

A ausência de relacionamentos bancários faz com que as notas e as moedas ainda dominem as transações. Segundo a MasterCard, 85% dos pagamentos no mundo ainda são feitos em espécie (no Brasil esse percentual é menor, cerca de 60% com os cheques gradualmente perdendo espaço para os cartões). 

 

Não por acaso, ao assumir a presidência no início de julho, Banga alterou a estratégia. Em vez de mirar na concorrência, ele declarou uma guerra ao dinheiro. Em três meses à frente da MasterCard, ele definiu que quer desbancar a Visa como líder global. 

 

“Banga tem uma experiência enorme com cartões na Ásia e pode ajudar a MasterCard a crescer fora dos Estados Unidos”, diz Katri. Não há dados oficiais, mas as estimativas são de que 55% do mercado de cartões que realizam transações internacionais  são da Visa e a MasterCard possui 45%, sendo que a participação das demais bandeiras não é relevante. 

 

No Brasil, a estimativa é que a MasterCard tenha pouco mais de 40%. As empresas consideravam essas posições confortáveis, mas Banga quer crescer na fatia de mercado dos pagamentos em dinheiro. Para mostrar que falava a sério, ele proibiu pagamentos em espécie no restaurante da sede da companhia. “Não podemos ter nosso principal concorrente dentro de casa.”

Enviado de Purchase (EUA)