Fora a exclusão das ações preferenciais da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), que reduziu de 59 para 58 o número de empresas que compõem o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, as mudanças sutis no Índice Bovespa poderiam passar despercebidas por um investidor menos atento. As cinco empresas que concentram mais de 30% do índice permanecem as mesmas, com pequenas alterações em sua participação. Em vigor desde a segunda-feira 5, essa nova versão segue até o último pregão deste ano. Mas quem conhece afirma que esse ajuste, que ocorre periodicamente, pode gerar oportunidades de ganho para o investidor.

Leonardo Milane, superintendente da Mesa de Varejo da Santander Corretora, destaca que as duas formações mais recentes do índice passaram a refletir melhor o Produto Interno Bruto (PIB) do País, com maior peso para empresas de serviços e de consumo primário, ao contrário de versões anteriores, em que boa parte do índice era composto por petroleiras e mineradoras. Entre as cinco ações com maior peso, as mesmas da composição anterior, estão Itaú Unibanco PN, cuja fatia caiu de 10,84% para 10,59%, Ambev ON, que subiu de 8,48% para 8,58%, Bradesco PN cujos papéis representavam 7,93% e aumentaram para 7,95%, Petrobras PN, que representava 4,06% da composição anterior e foi alçada a 5,52% na atual, além de BRF, cuja participação foi reduzida de 4,76% para 4,25%. Essas cinco empresas representam 36,9% do novo Ibovespa.

A maré da bolsa está ascendente. No acumulado do ano, até a quinta-feira 8, quando fechou a 60.231 pontos, o índice subiu 38,9%, sendo que 4% ocorreram no mês corrente. Segundo os especialistas consultados pela DINHEIRO, a boa notícia é que a tendência ainda é de alta. “A bolsa antecipa os movimentos da economia em quatro a seis meses, e como o mercado espera indicadores melhores nos próximos meses, a tendência das ações é positiva”, diz Milane. Mas ele adverte que esse bom humor depende da celeridade do governo em dar andamento às reformas fiscal, previdenciária e trabalhista.

Outros gestores concordam, entre eles Francisco Giffoni Meirelles de Andrade, sócio da gestora Forpus Capital. Andrade administra o Forpus Ações Master Fia, que, com uma rentabilidade de 84,9% entre janeiro e agosto, é um dos fundos de ações mais rentáveis do ano. Ele diz acreditar em uma tendência altista, mas só se o governo aproveitar a janela após as eleições municipais para aprovar a reforma tributária na Câmara ainda neste ano. Não é uma tarefa fácil, pois depende do volúvel apoio de 308 deputados.

Até onde a maré pode subir? A previsão da Santander Corretora é de que o Índice Bovespa enfrente uma resistência em 61 mil pontos. Em português, isso quer dizer que, quando o índice chegar nesse patamar, deverá haver um forte movimento de venda, com investidores colocando dinheiro no bolso, a chamada realização de lucros. Mais otimista, Andrade diz acreditar que o índice pode chegar a 70 mil pontos, acumulando uma alta de 15% até o fim do ano. Se isso se confirmar, ele recomenda a venda dos papéis logo no início de 2017. “Claro que há o risco de os políticos não cumprirem sua parte e a votação ser adiada para depois de março, o que estressaria o mercado e levaria à queda das ações ainda neste ano”, alerta Andrade.

Nesse cenário, os especialistas são versáteis em recomendar papéis. A equipe de analistas da Santander Corretora indica as ações de empresas públicas, como Banco do Brasil, Petrobras, Cemig, Eletrobras, BB Seguridade e Light como suas principais apostas. “Nos últimos seis anos, as elétricas estatais perderam valor por conta da mudança do marco regulatório, em 2012, e por ingerências políticas. Mas agora, com as mudanças na gestão das companhias e uma ligeira melhora de alguns indicadores, tanto as geradoras como as distribuidoras estão observando um aumento na produção e nas vendas de energia”, diz Milane.

Outra aposta do time do Santander é a Petrobras. Além dos problemas causados pela gestão anterior e pela Lava Jato, a estatal foi prejudicada pelas regras do pré-sal, que a obrigavam a ter o controle dos campos. Isso exigia investimentos pesados em exploração e em outorgas, o que afetou o já comprometido caixa da petrolífera. A venda de ativos deverá sanar esse problema. O portfólio recomendado inclui ainda os papéis das concessionárias de rodovias CCR e Ecorodovias, e a Rumo, que concentra a malha ferroviária para o escoamento de grãos, além de bancos privados como Bradesco e Itaú Unibanco, que devem reverter provisões de perdas em breve. Para Andrade, as ações de telecom tendem a ser reprecificadas porque existe uma chance de elas melhorarem seus lucros.