16/02/2011 - 21:00
As águas estão agitadas na bolsa. Depois da ressaca após o maremoto de 2007 e de uma lenta elevação da maré financeira no ano passado, os prognósticos para as aberturas de capital em 2011 são os melhores dos últimos quatro anos. As cifras ainda estão distantes do recorde de R$ 67 bilhões registrado em 2007, mas nos dois primeiros meses do ano já estão previstas 15 operações. Entre lançamentos já confirmados e esperados pelo mercado, esses negócios devem levantar R$ 6 bilhões. Quem acompanha os números não disfarça o otimismo.
Fujii: estudou detalhadamente os números da Anhanguera Educacional
“A expectativa é que o valor das emissões neste ano supere o das de 2007”, diz José Antonio Gragnani, diretor da BM&FBovespa. Vale a pena surfar nessa nova onda de aberturas de capital?
Antes de rumar para a água, é bom prestar atenção a uma mudança profunda em relação a 2007: a ausência da euforia internacional.Quatro anos atrás, os estrangeiros embolsavam até 70% das ações lançadas.
“A demanda era tão grande que os investidores compravam a qualquer preço”, diz Paulo Portinho, gerente-geral do Instituto Nacional de Investidores. Não por acaso, a maioria das emissões de 2007 rendeu menos que os juros. Hoje, a maré baixou – e não vai subir tão cedo.
“Os preços deverão ser mais justos do que há quatro anos”, diz Alexandra Almawi, economista da corretora Lerosa Investimentos. Prova disso é que quem investiu em 2010 obteve um rendimento quase 20% superior ao dos juros.
Abertura de capital da Arezzo:a única que saiu sem desconto este ano
A redução da euforia vai diminuir as oportunidades de ganho dos investidores de curtíssimo prazo, chamados “flippers”, que compram ações no lançamento e as vendem nos primeiros dias de pregão, em busca de um lucro rápido. É o caso do engenheiro paulista Paulo Freitas, 33 anos.
“Geralmente fico com as ações por apenas dois dias depois da oferta”, diz ele, que aposta nas aberturas de capital desde 2006. Freitas diz ter ganho cerca de 5% com a abertura de capital da Droga Raia, em dezembro passado, e 8% com o lançamento de ações da varejista e calçadista Arezzo, no fim de janeiro.
“Todo o meu patrimônio está investido em ações e reservo de 20% a 30% para participar das aberturas de capital.” As possibilidades de ganhar dinheiro dessa forma estão mais restritas.
Segundo Almawi, da Lerosa, a redução do capital disponível fez com que os controladores das empresas que abriram o capital concordassem em vender as ações com desconto, o que ocorreu com quatro das cinco emissões de 2011 – Queiroz Galvão, Sonae Sierra, Autometal e Direcional. O único lançamento em que isso não ocorreu foi o da Arezzo.
Em 2011, a decisão de começar a nadar ou esperar a próxima onda vai depender das condições de cada empresa em particular. As seis emissões já confirmadas e que ainda estão para ocorrer são de empresas de setores díspares que vão da energia renovável, como a Engevix, aos alimentos básicos (Camil), passando pelo varejo (International Meal).
“No Brasil, esses são os setores que apresentam as melhores perspectivas”, diz Pedro Alceu, da corretora Tov, ressalvando que não analisa ações específicas. Outros profissionais avaliam que algumas ações foram lançadas a preços elevados.
Um bom exemplo foi a Autometal, que começou a ser negociada no fim do ano passado e caiu 3,2% desde o lançamento. Já as cotações de lançamento da Queiroz Galvão foram mais em linha com as expectativas do mercado.
Para saber se a empresa está cara ou barata, o indicador mais importante é a relação preço/lucro (P/L), que mostra em quantos anos o lucro por ação vai “devolver” o capital investido.
Não é possível calcular esse indicador para ações recém-chegadas. “É preciso esperar que a empresa divulgue o lucro por ação referente a um período de 12 meses no mínimo”, diz Einar Rivera, sócio da empresa de informações Economática.
No caso de quem já tem ações em bolsa e está realizando as ofertas subsequentes de ações (conhecidas pelo termo inglês follow-on) é possível comparar o P/L com o de outras empresas do setor.
A variação é grande. O P/L médio das companhias de petróleo, caso da Queiroz Galvão, é de 4,4, ao passo que esse indicador para redes de varejo como a Arezzo é de 30,4, segundo a Economática.
Quando a empresa não tem outras para servir de comparação, faça as contas tomando como parâmetro papéis de primeira linha como Vale e Petrobras – cujos P/L futuros são estimados, respectivamente, em 9 e 12 – e que teoricamente oferecem menos riscos que uma recém-chegada ao mercado.
É a técnica do engenheiro Hudson Fujii, de 25 anos, que começou a investir em 2008 quando reuniu um grupo de amigos da faculdade. Ele diz ter ganho 8% apostando na abertura de capital da Droga Raia, comprando no dia do lançamento e vendendo no dia seguinte, e também participou do follow-on da Anhanguera Educacional em dezembro passado, depois de estudar a fundo os números da companhia – cujas ações mantém até hoje.
“Acredito nos fundamentos da empresa. Essa abordagem é a recomendada pelos especialistas. “Não é porque a empresa está fazendo uma oferta pública que ela vai ser melhor ou pior do que as concorrentes que estão no mercado”, diz o consultor de investimentos Mauro Calil. “O investidor tem de ter consciência dos riscos e decidir se participa ou não sabendo o que está fazendo.”
Colaborou Caio Moretto“