19/07/2013 - 21:00
Chegaram ao Brasil, na segunda-feira 15, na Base Área do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, os dois papamóveis nos quais o papa Francisco irá desfilar durante sua visita ao País para participar da Jornada Mundial da Juventude, entre os dias 23 e 28 de julho, na primeira viagem internacional de seu papado. Um deles é um jipe branco da Mercedes-Benz, igual ao que Sumo Pontífice utiliza na Praça São Pedro, no Vaticano. O outro é um modelo verde, de reserva, que nem pôde ser pintado a tempo. Ambos, no entanto, não têm blindagem, o que causou desconforto nos responsáveis por garantir a proteção do papa no Brasil.
“A blindagem nos deixa mais tranquilos”, afirmou o general José Abreu, coordenador da segurança pelas Forças Armadas. “Essa é uma escolha pessoal, respeitamos, mas não é nada agradável para a segurança.” O caso ilustra bem a natureza do novo papa, seguidor dos princípios franciscanos da humildade e da simplicidade. Mas que exige adaptações das pessoas e das empresas em torno dele. Até mesmo a empresa responsável pela confecção das peças litúrgicas que serão utilizadas pelo papa Francisco, a paulistana Luiz Carrara Artesanato Sacro, precisou simplificar. Ela também forneceu cálices, mobiliários e trajes para os dois papas anteriores, João Paulo II e Bento XVI, em suas visitas ao País.
Desta vez, os objetos serão mais simples do que os usados pelos antecessores do papa Francisco. Desenhado pelo artista Cláudio Pastro, o cálice é confeccionado em latão – que custa menos de R$ 30 por quilo – e apenas banhado em prata na parte externa e por uma camada de ouro internamente. Esse modo desapegado das coisas materiais criou um constrangimento para a Cúria Romana. Antes de sua viagem ao Brasil circularam rumores de que o novo papa, acostumado a viajar de classe econômica, havia solicitado à companhia aérea italiana Alitalia, responsável por seu voo ao Brasil, um avião igual aos que ela usa normalmente para o País, sem camas ou qualquer conforto.
Os escolhidos de Francisco: 1. As peças litúrgicas criadas pelo artista Cláudio Pastro, da Luiz Carrara Artesanato Sacro,
são mais simples do que as usadas pelos papas anteriores 2. O papamóvel usado no Brasil é um jipe da Mercedes
sem blindagem 3. Foram encomendadas mais de 4 milhões de hóstias para três empresas brasileiras. 4. Imprensa
internacional divulgou que o papa pediu para a Alitalia não se preocupar com luxo em seu voo
A informação, depois de circular por veículos da imprensa dos cinco continentes, foi desmentida pelo Vaticano. “O avião é o de sempre e os assentos também. O papa ficará na frente, exceto quando falar com vocês”, disse o padre Federico Lombardi a jornalistas. “Nada especial foi feito.” Para as grandes companhias, acostumadas a seguir os mandamentos dos gurus de marketing, de buscar sempre uma forte exposição de suas marcas, será necessário percorrer caminhos mais simples. Os patrocinadores da Jornada – um grupo que inclui Nestlé, McDonald’s, Bradesco, Itaú e Santander, entre outros – seguirão a linha discreta do novo papado, apesar de contribuírem com R$ 10 milhões para o encontro católico.
A organização do evento informou que a exposição das marcas não é uma prioridade para as parceiras e que a Jornada deve ser vista como um evento sem fins lucrativos, para celebrar os valores humanos. A instituição de ensino carioca Estácio, que patrocina o evento e treinou os 60 mil voluntários, admite que terá uma presença de pouco impacto. “É preciso ter bom senso e ser mais discreto”, afirma Cláudia Romano, diretora de parcerias estratégicas da Estácio. “Tratamos a Jornada como uma ação de responsabilidade social.” A Nestlé e o McDonald’s, por sua vez, preferiram uma parceria comercial para o evento.
Santo palco: altar sendo montado para a missa em Guaratiba, no Rio de Janeiro,
em evento organizado pela Dream Factory
A empresa suíça de alimentos fornecerá produtos, como leite achocolatado e barras de cereal, para compor os kits dos peregrinos e ainda terá alguns produtos comercializados durante o evento, como sorvetes e biscoitos. A rede de fast-food americana lançou um lanche especial, que ela diz ser mais saudável, que será vendido em todas as suas lojas no período da Jornada, ao custo de R$ 15. Outras empresas que pretendem ser fornecedoras de grande volume para o evento são as fabricantes de hóstias. Foram encomendados mais de 4 milhões delas. O comitê organizador da Jornada analisou o produto de seis dos 15 fabricantes nacionais do símbolo católico, que é feito de farinha e água.
Desses, apenas três foram escolhidos: a Hóstia São Francisco, de Mococa (SP), a Hoste, do Rio de Janeiro, e Hóstia Nossa Senhora de Fátima, de Ponte Nova (MG). A responsável por combinar o time de patrocinadores do encontro foi a empresa de eventos Dream Factory, também organizadora do festival de música Rock in Rio e parte do grupo Artplan, do publicitário Roberto Medina. Além de captar patrocínios, ela fez o planejamento do evento. “A Jornada é o maior desafio da nossa história e, por suas próprias características, talvez o mais complexo dos grandes eventos mundiais”, diz Duda Magalhães, diretor-geral da empresa. Mesmo que essa complexidade esteja em fazer transparecer a simplicidade defendida pelo papa Francisco.