A rotina do japonês Michikazu Matsushita, presidente da subsidiária brasileira da Panasonic do Brasil, será bem agitada até o fim da Olimpíada. Por ser o comandante de uma das patrocinadoras oficiais do evento dos jogos, o executivo aproveitará para convidar diversos empresários para assistir às competições. Isso, no entanto, não se trata apenas de um mimo de Matsushita para os seus potenciais clientes. O japonês quer se aproveitar do ambiente competitivo dos jogos para fechar negócios. Por isso, enquanto todos estiverem assistindo o jamaicano Usain Bolt partir para mais um ouro, Matsushita trabalhará para subir no pódio das vendas. A meta da Panasonic, quase cinquentona no Brasil, é fazer do maior evento esportivo do mundo uma espécie de vitrine do que a Panasonic pode alcançar dentro das empresas brasileiras. “Os Jogos Olímpicos serão fundamentais para a nossa estratégia de crescer no B2B”, afirma Matsushita.

As vendas corporativas se tornaram uma espécie de obsessão para Matsushita. No Brasil, a empresa, que faturou estimados R$ 2,1 bilhões no ano passado, ainda patina em comparação com a sua matriz. Lá fora, a Panasonic já aposta em tecnologias para empresas  como energia solar e até mesmo em inovações em setores como mineração e agricultura. Por aqui, a fabricante vem criando soluções mais pontuais, como aparelhos de segurança e sistemas de ar-condicionado movidos a gás. A companhia até fechou contrato com o banco espanhol Santander para trocar os aparelhos movidos a energia elétrica de diversas agências do País. A fase de testes já começou em uma agência e outras duas devem receber o equipamento no curto prazo. O B2B representa 20% do faturamento da empresa no Brasil e a meta de Matsushita é que esse número alcançe a metade até 2020.  Faz sentido. “Apostar no B2B traz uma segurança financeira, pois os contratos costumam ser de médio a longo prazo”, diz Fábio Mariano, professor de ciências do consumo da ESPM. A despeito do momento turbulento, a Panasonic prevê dobrar o faturamento nos próximos quatro anos. “Prevíamos essa cifra em 2018, quando a empresa completará 100 anos, mas a crise nos fez adiar o plano”, diz Matsushita.

Uma das apostas está em um dos segmentos que mais sofreram retração nos últimos anos: o de eletrodomésticos. No ano passado, o mercado despencou 10%. Já no primeiro semestre de 2016, o setor apresentou mais uma forte retração de 9,8%. “No entanto, parece que o pior já passou”, afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que representa as fabricantes de eletrodomésticos. “Chegamos ao fundo do poço e precisamos voltar a crescer.” A situação da Panasonic, contudo, é bem diferente. Ela cresceu 30% no setor em 2015, mas ainda possui uma base de comparação pequena – a marca ainda não é famosa dentro do segmento. Com produtos mais direcionados às classes A e B, a empresa tem pouca participação de mercado em um setor dominado pela sueca Electrolux, pela coreana Samsung e pelas marcas da Whirlpool (a Brastemp e a Consul), que, apesar da perda de credibilidade nos últimos anos, ainda se seguram pela força da tradição. Então, para Matsushita, a ideia é aproveitar o momento em que os consumidores estão mais seletivos e abocanhar uma fatia do mercado. “Com a busca pela eficiência dos consumidores, nós mostraremos que a nossa tecnologia é superior ao da concorrência”, diz. 

Em tempos de vacas magras, portanto, o melhor é aproveitar as oportunidades. Por conta disso, uma boa apresentação da fabricante japonesa durante os jogos no Rio de Janeiro será fundamental para a conquista de novos clientes. A Panasonic equipa praticamente toda a capital fluminense e estará presente nas casas de bilhões de espectadores até o fim da Paralimpíada. Isso ocorrerá porque os esportes serão transmitidos para o mundo inteiro com câmeras de ultra-definição da companhia japonesa: a Panasonic disponibilizou mais de 200 para a organização e emissoras de todo o mundo. Nos ginásios e estádios mais de 15 mil televisores estarão espalhados pelas estruturas. A presença da companhia poderá influenciar, inclusive, resultados dentro das arenas – através das imagens captadas pelos produtos da fabricante, os juízes poderão tirar dúvidas e acabar com as polêmicas em torno delas.