10/11/2010 - 21:00
Na reunião que definiria os termos do projeto de cessão onerosa dos barris do pré-sal à Petrobras, em agosto de 2009, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi taxativa ao negar a primeira proposta de exploração da estatal: “De jeito nenhum. Aí está o filé!”
Dilma se referia ao campo de Tupinambá, uma área de potencial desconhecido pelo governo à época, mas conhecido pela Petrobras. Sem segurança para avaliar o mapa apresentado, a ministra “virou onça”, nas palavras de quem participou da reunião, e resolveu não delimitar uma área específica no projeto.
Um ano depois, a estatal receberia apenas 40% da área proposta inicialmente, graças à prudência da nova presidente eleita, que pautou pela rigidez sua passagem pelo governo Lula. O pulso firme de Dilma é tido por colegas de trabalho como a principal razão do sucesso de programas como Luz para Todos e Minha Casa Minha Vida, ainda que seu alto nível de exigência tenha deixado exaustos os responsáveis por implantá-los.
Dilma, no anúncio do programa Luz para Todos, que beneficiou mais de 12 milhões de pessoas
“Ela exige muita convicção dos subordinados. Não é fácil convencê-la, mas, quando convencida, ela se torna uma grande aliada”, diz um colaborador. O título de mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) soou muitas vezes exagerado na boca do presidente Lula durante seu segundo mandato, mas o protagonismo de Dilma é incontestável para quem acompanhou de perto seu trabalho.
Foi ela, por exemplo, quem definiu o modelo de partilha para a exploração do pré-sal, que permitirá ao governo utilizar o petróleo como moeda para negociações internacionais. “O Luz para Todos não teria chegado aonde chegou sem ela”, diz Aurélio Pavão de Farias, atual diretor do programa.
Criado durante a gestão de Dilma no Ministério de Minas e Energia (MME), em 2004, o Luz para Todos levou energia a 2,9 milhões de famílias e planeja fazer mais 500 mil ligações elétricas a partir de 2011. “Foi Dilma que atentou para a necessidade de considerar a realidade de cada Estado ao montar a engenharia de financiamento.
Hoje, os subsídios são maiores para as regiões Norte e Nordeste”, lembra Farias. O diretor atribui à próxima presidente da República uma herança de excelência que permitiu ao programa continuar se desenvolvendo em alto nível mesmo depois de sua ida para a Casa Civil, quando, ligada diretamente ao presidente, Dilma assumiu os principais projetos do governo.
Iniciado em 2007, o PAC reuniu sob a coordenação da pasta comandada por Dilma os principais projetos de infraestrutura do País. “Para o bem ou para o mal, eu sou a mãe do PAC”, assumiu a ministra em março de 2008, durante solenidade do Senado em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. “É um título que simboliza a coordenação.
Tanto nos momentos difíceis, quando diziam que era uma pirotecnia, quanto nos momentos bons. Quando as obras saem, é responsabilidade da coordenação”, disse na ocasião. Foi naquela época, ainda sob negativas de que concorreria ao Planalto, que a candidatura de Dilma começou a se consolidar.
A ministra passou a frequentar inaugurações de obras do PAC ao lado do presidente Lula, mas também fez jus ao cargo de coordenadora-geral nos bastidores. “Apresentamos a ela o primeiro esboço de um projeto de habitação em agosto de 2008 e ela reconheceu ali o Minha Casa Minha Vida”, conta Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
O Minha Casa Minha Vida alcançou, em setembro, 63% de sua meta de reduzir o déficit habitacional do Brasil. Foram assinados 630,8 mil contratos desde abril de 2009, quando o programa entrou em vigência, mas apenas 160.883 unidades foram entregues. Durante o penúltimo debate dos presidenciáveis, realizado na semana passada, Dilma disse que a Caixa Econômica Federal havia recebido mais de um milhão de contratos, parte deles em análise, o que permitirá ao governo cumprir a meta ainda em 2010. “Temos certeza de que é factível fazer mais dois milhões de casas”, previu para a próxima gestão.
E esse é apenas um dos planos previstos no PAC 2, que deve nortear as ações de seu governo. O programa prevê o gasto de R$ 1,59 trilhão a partir de 2011, com destaque para a área de energia. Estão previstas 54 novas usinas hidrelétricas e 71 eólicas no PAC Energia, mas seu foco principal é a área de petróleo e gás. Nos próximos anos, serão investidos R$ 711,4 bilhões na exploração e produção a partir do pré-sal.
Além de dar continuidade a programas iniciados no governo Lula, o PAC 2 destaca uma seção exclusiva para a atuação direta na vida do cidadão. As Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e os equipamentos urbanos previstos no PAC da Cidadania vão demandar R$ 23 bilhões de 2011 a 2014.
A ideia é aumentar a presença do Estado em bairros populares, com a construção de creches e postos comunitários e a instalação de Praças do PAC, espaços integrados “de cultura, esporte e lazer, inclusão digital, assistência social, trabalho e prevenção à doença”. Nada muito diferente da assistência que marcou o governo Lula. Depois de Lula tirar 28 milhões de pessoas da miséria, a próxima presidente promete erradicar a pobreza do Brasil. Mais do mesmo, mas algo que vem dando certo há oito anos.