09/12/2014 - 10:00
Quem caminha pelo centro de Mannheim, cidade a cerca de 40 minutos de trem de Frankfurt, o principal centro financeiro da Alemanha, se encanta com a infinidade de luzes de Natal. Parte principal da decoração das chamadas “feirinhas locais” – espécie de mercado a céu aberto –, elas iluminam rodas- gigantes, carrosséis, torres e até mesmo tendas que servem as típicas cervejas e salsichas alemãs. É o cenário perfeito para adultos e crianças que encaram o frio de dois graus e a chuva com flocos de neve para celebrar os últimos dias do ano.
O clima festivo, no entanto, esconde uma preocupação comum ao dia a dia de todos os alemães, inclusive dos 300 mil habitantes da região: o que esperar do futuro da maior economia da Europa? O ano não tem sido fácil. Após registrar PIB negativo e queda de 5,9% nas exportações no segundo trimestre – o pior resultado da balança comercial desde janeiro de 2009 –, a locomotiva alemã espantou o risco de recessão técnica ao crescer mísero 0,1% no terceiro trimestre. Para o economista-chefe do Deutsche Bank, Stefan-B Schneider, o resultado modesto não afasta o fantasma da estagnação econômica durante o período do inverno, que começará oficialmente nas próximas semanas.
A julgar pelo clima empresarial, a situação, de fato, é preocupante. Nos últimos seis meses, o índice de confiança do setor produtivo vem declinando, com projetos de investimentos engavetados. “A recuperação econômica deve ocorrer progressivamente apenas em 2015”, afirma Schneider, numa abordagem que nada difere da dos colegas brasileiros sobre o desempenho de um certo país da América do Sul. Terceiro maior exportador do mundo, a Alemanha sofre com um mercado global nebuloso e retraído. A guerra civil na Ucrânia, os embargos econômicos à Rússia – que fizeram os negócios entre os dois países caírem mais de 20% em 2014 – e a desaceleração na China, seu segundo mercado consumidor, deterioraram as contas alemãs.
Para piorar, a maioria dos seus países vizinhos da zona do euro, que representam 35% de tudo que a Alemanha exporta, continua mergulhada na crise. Para que a meta de crescimento de 0,8% no ano que vem seja cumprida, a chanceler Angela Merkel terá de estimular o mercado interno e incentivar os investimentos em infraestrutura. No entanto, embora o cenário seja preocupante, não deu ainda lugar ao catastrofismo. Apesar da possibilidade de estagnação da Alemanha poder deixar a zona do euro em uma situação mais frágil, Jörn Quitzau, economista-sênior do Berenberg Bank, um dos bancos mais tradicionais da Europa, acredita que o fenômeno é cíclico, com alguns países da região dando os primeiros sinais de recuperação.
“Não é o retorno à crise do euro”, diz o economista. O bom senso indica que a Alemanha só voltará a crescer como nos tempos áureos se o governo repensar algumas estratégias, abandonando, em especial, a fracassada cartilha ortodoxa defendida por Merkel no auge da crise, que levou países como Espanha e Grécia a mergulharem num profunda recessão e a registrar taxas de desemprego de 25%.
Mas há um problema para os revisionistas: não é nada fácil mudar o pensamento ultraconservador dos alemães, que não concordam com a posição liberal do Banco Central Europeu de reduzir os juros ao menor nível da história e de defender o fim da austeridade fiscal. “Aumentar o salário mínimo ou dar oportunidade de aposentadoria antecipada, por exemplo, são o oposto do que a Alemanha precisa agora”, afirma o pessimista moderado Quitzau, alemão e ortodoxo, com o perdão do pleonasmo.