13/03/2015 - 20:00
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deverá acompanhar com atenção a chegada da correspondência ao Ministério nos próximos dias. Ele espera receber, das autoridades financeiras francesas, uma lista com os nomes dos correntistas brasileiros que possuem depósitos no private bank do HSBC na Suíça. Na sexta-feira 13, a promotoria que investiga os crimes financeiros na França solicitou que o private do HSBC seja processado por suspeitas de facilitar a sonegação dos clientes milionários. O novo inquérito deverá lançar mais luz sobre a lista de clientes da instituição, e Cardozo deverá examinar a relação com lupa, em busca dos suspeitos habituais e de alguns novos implicados.
As listas mais recentes divulgadas pelo Conselho Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) mostram que alguns nomes bem conhecidos da Polícia Federal mantiveram seu dinheiro na lavanderia do HSBC em Genebra. São exemplos de probidade, como o ex-militar Aílton Guimarães Jorge, o “Capitão Guimarães”, um dos chefes do jogo do bicho e da máfia dos caça-níqueis no Brasil. Ou o falecido advogado carioca Ilson Escóssia da Veiga, associado a Jorgina de Freitas no esquema que desviou R$ 600 milhões do INSS nos anos 1990. Outros nomes surgiram pela primeira vez, como o do banqueiro Ezequiel Edmond Nasser, ex-controlador do Banco Excel Econômico.
Um dos banqueiros mais agressivos do mercado financeiro ao longo dos anos 1990, Nasser ficou conhecido por suas tacadas ousadas. Criou um pequeno banco de investimentos, o Excel, logo no início da década. Em 1996, ele adquiriu o controle do banco Econômico, que pertencia a Ângelo Calmon de Sá e havia sofrido intervenção do Banco Central (BC). A incursão no varejo tornou o reservado Nasser uma celebridade no mercado financeiro. O banqueiro ilustrou capas de revistas e ganhou ainda mais visibilidade quando a logomarca do Excel Econômico estampou as camisas de times como o Corinthians, em São Paulo, o Vitória, na Bahia e o América, em Minas Gerais.
No entanto, isso durou pouco. Vergado por sistemas atrasados e controles falhos, o banco sofreria uma nova intervenção do BC, que forçaria a transferência do controle para o espanhol BBV em maio de 1998. Um ano depois, o Ministério Público Estadual da Bahia iria denunciar Nasser e outros dois diretores do Excel Econômico por formação de quadrilha, gestão temerária e concessão de empréstimos proibidos. Condenado em 2006, Nasser teria a pena reduzida para a prestação de serviços à comunidade. Agora, seu nome ressurge entre os clientes do HSBC na Suíça. Procurado, Nasser não foi encontrado, assim como seus representantes legais.