De todos os possíveis clientes, fãs e curiosos que passaram pelo estande da Indian Motorcycles no Salão Duas Rodas, na semana passada, em São Paulo, um deles em especial chamou atenção. Um senhor, de quase 80 anos de idade, chegou ao espaço carregando uma pequena sacola. Dela, retirou um álbum de fotografias da família e, entre imagens já amareladas, fez questão de mostrar aos executivos da marca o quanto uma Indian havia marcado sua vida, há cerca de 60 anos. “Ele nos contou que era apaixonado pela moto do tio. Ajudava a cuidar, lavava, e até hoje fala dela com carinho e nostalgia”, conta Rodrigo Lourenço, diretor para a América Latina da Polaris, detentora da Indian. É com esse tipo de sentimento que a marca americana, que acaba de chegar ao Brasil, espera contar para expandir seus negócios no País. E não poderia ser diferente, já que o segmento onde atua – o das chamadas motos “custom” – é movido a design, desempenho e tecnologia de ponta, mas sobretudo a paixão. “A notoriedade da marca no Brasil tem nos surpreendido. O consumidor pode não conhecer nossos produtos a fundo, mas sabe o quanto ela foi pioneira e a vê como uma lenda”, diz o executivo. 

Concorrente da Harley-Davidson, a Indian é ainda mais antiga que a rival. Fundada em 1901 (a Harley surgiria dois anos depois), foi a primeira fabricante americana de motocicletas, e responsável por uma série de inovações (agradeça à Indian pelo acelerador no guidão). Na medida em que as novidades surgiam,  ganhava corpo uma legião de fãs – que acabou se tornando órfã quando a empresa fechou as portas, em 1953. Fica fácil entender, portanto, o frisson causado entre os amantes das duas rodas quando a Polaris, fabricante americana de quadriciclos, adquiriu a marca e fez o motor da Indian voltar a roncar, em 2013. E, já na reestreia, o Brasil figurou como destino certo. “A previsão é de que o País seja o maior mercado da Indian fora dos Estados Unidos”, diz Lourenço.

Além da concessionária inaugurada neste fim de semana, em São Paulo, outras três serão abertas até o fim do ano, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e Florianópolis. Os consumidores poderão escolher entre três modelos: a Chief Classic (R$ 80 mil), a Chief Vintage (R$ 90 mil) e a famosa Scout (R$ 50 mil), todas montadas em Manaus, na planta da Dafra. O portfolio da Indian segue o que a companhia chama de sistema “40/60”, ou seja, 40% da moto carrega o DNA histórico, com elementos que remetem aos modelos centenários e até hoje idolatrados, enquanto os outros 60% refletem o avanço tecnológico. A Roadmaster, por exemplo, top de linha e que deve chegar no ano que vem, tem detalhes idênticos à versão original, de 1947. Ao mesmo tempo, trata-se de uma moto ultramoderna, com monitoramento de pressão dos pneus, piloto automático e bagageiros acionados por controle remoto. 

É na “pequena” Scout, porém, que a Indian aposta suas fichas para fisgar o consumidor local. Com preço de entrada no mesmo patamar da Harley-Davidson, a máquina, além de ser a mais em conta do portfolio, é a mais baixa, o que tende a se adequar melhor à estatura do brasileiro. Quanto ao desempenho, a Scout também não deixa a desejar: com 1130 cilindradas e câmbio de seis marchas, a mascote chega a 190 km/h. Os executivos prevem que o modelo representerá 50% das vendas no País e dizem estar preparados para o confronto com a rival. 

A tarefa pode não ser fácil, considerando o poder da marca Harley-Davidson. “É um segmento que exerce grande fascínio no consumidor, mas acreditamos que a imagem não pode se sobrepor ao produto. Quem pilotar uma Indian vai entender a diferença”, diz Lourenço. Que ronquem os motores.