Poucos brasileiros ouviram falar da chinesa Xiaomi. Mas ela foi a sensação do mercado de smartphones em 2014. Com apenas cinco anos de vida, a marca que vale US$ 45 bilhões conseguiu desbancar da liderança em sua terra natal a toda poderosa Samsung. Mais: suas vendas se multiplicaram por quatro, alcançando 56 milhões de unidades. Com isso, ela conquistou uma fatia de 4% do mercado global de celulares inteligentes. A Xiaomi é um exemplo da força que as empresas chinesas estão ganhando no mundo da mobilidade.

A Lenovo, forte em computação pessoal, deu início ao seu plano de crescer em celulares em mercados ocidentais, com a Motorola, comprada no ano passado. A Huawei, por sua vez, ultrapassou a coreana LG. Resultado: nenhum país vendeu mais smartphones no mundo do que a China, assumindo o posto que pertencia à Coreia do Sul. Das 10 maiores fabricantes de celulares inteligentes, seis eram chinesas, de acordo com pesquisa da consultoria americana Trendforce. Juntas, elas produziram mais aparelhos que Samsung e Apple, isoladamente.

Isso não passou despercebido pelos corredores da Mobile World Congress (MWC), que aconteceu na semana passada, em Barcelona. Do lado direito da escada rolante que dava acesso ao salão principal do evento, os visitantes se deparavam com o imponente estande da Samsung, que exibia o Galaxy S6, novo celular de topo de linha da marca e que foi lançado no evento. À esquerda, no entanto, estava o pomposo espaço da Huawei. A Lenovo instalou-se no salão nobre, ao lado da Microsoft. A ZTE também comprou um grande espaço. Só a Xiaomi estave ausente, mas isso deve mudar, pois a empresa conta com planos agressivos de expansão internacional.

“É nítido que as empresas chinesas estão ganhando mais representatividade”, afirma Cristian Cifuentes, diretor de vendas da Lenovo para a América Latina. “As marcas estão ficando mais conhecidas na Europa e nas Américas e estas feiras são importantes para ganhar visibilidade.” O desafio dos fabricantes chineses de smartphones é ir além da Grande Muralha. Hoje, quase a totalidade de suas vendas está concentrada no mercado interno. Mas isso está começando a mudar. A Lenovo e a TCL, por exemplo, optaram por adquirir marcas ocidentais de aparelhos que estavam, de certa forma, combalidas, mas que ainda eram reconhecida pelos consumidores.

Motorola e Alcatel se tornaram, assim, a bandeira dessas asiáticas fora de seus domínios. A Huawei escolheu outro caminho. Famosa regionalmente por seus potentes celulares Android, a empresa quer levar esses aparelhos a outros países com preço competitivo. No Brasil, ela lançou recentemente o Ascend P7, um de seus aparelhos mais robustos, por R$ 1 mil. “Ainda não existe uma estratégia que pode ser considerada a correta para as empresas chinesas seguirem”, diz Wang Jiayu, da consultoria chinesa Fubon Securities. “Elas optaram por diferentes abordagens e todas são boas, na teoria.” A Xiaomi, que deve chegar ao mercado brasileiro no primeiro semestre deste ano, é a mais ambiciosa delas.

Seu fundador, Lei Jun, é chamado internamente de “Steve Jobs chinês” por criar produtos comparáveis ao design da Apple, mas com preço bem em conta. O modelo Mi Note, por exemplo, briga com o iPhone 6 Plus, mas com um preço 38% inferior. A expansão internacional da Xiaomi está nas mãos do brasileiro Hugo Barra, um ex-alto executivo do Google, contratado como vice-presidente global. Seu plano é levar a marca para diversos mercados emergentes, entre eles o brasileiro. Em janeiro de 2015, a companhia alcançou a quinta posição das vendas globais de smartphones. Está bem próxima das compatriotas Huawei e da Lenovo, mas ainda longe de Apple e Samsung.