27/12/2013 - 21:00
Conceitos e indicadores econômicos como inflação, taxa de juros e dívida externa fazem parte do cotidiano dos economistas brasileiros desde os tempos do Império. Nos últimos 20 anos, no entanto, outras categorias de indicadores foram incorporadas ao vocabulário das prioridades nacionais: a infraestrutura e a educação. Com a estabilização monetária proporcionada pelo real, a sociedade passou a prestar mais atenção aos gargalos e aos planos de melhorias para as cidades, estradas, aeroportos e ferrovias. Não por acaso, projetos de longo prazo entraram na pauta e se tornaram demandas prioritárias da sociedade.
Tudo parado: trânsito na avenida 23 de Maio, em São Paulo. A dificuldade
de locomoção nas grandes cidades afeta a produtividade das empresas
O crescimento econômico dos últimos anos também trouxe outra preocupação: a falta de mão de obra qualificada. É nesse ponto que o cuidado com a educação, desde o ensino básico até as universidades, se torna parte fundamental da máquina que sustenta a produção de riquezas e alavanca o aumento do PIB. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI ), a falta de profissionais qualificados afeta 65% das empresas do setor. Para resolver o problema, é preciso investir não apenas em cursos específicos, mas também no ensino de habilidades comportamentais e de comunicação, de responsabilidade das escolas.
A falta de infraestrutura também é algo que afeta diretamente a produtividade das empresas. Uma pesquisa feita pelo Ipea, em 2012, mostra que 18,6% dos moradores das áreas metropolitanas do País gastam mais de uma hora para chegar ao trabalho. Esse percentual era de 14,6% em 1992. As dificuldades para se locomover nas grandes cidades foi o tema central dos protestos que sacudiram as principais metrópoles do Brasil em junho deste ano. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o aumento na tarifa de ônibus. As manifestações acabaram extrapolando o tema da mobilidade urbana.
Julio Fontana, CEO da Cosan Logística: “Com o real, fazemos planos
de longo prazo, o que não acontecia no tempo da inflação galopante”
Mas o que motivou a mobilização, especialmente em São Paulo, foram os R$ 0,20 a mais na tarifa do transporte. Fora das regiões metropolitanas, a falta de infraestrutura fica evidente quando se olha para as dificuldades de escoamento da produção do agronegócio. “Somos competitivos da porteira para dentro”, afirma Julio Fontana, presidente da Cosan Logística, braço de transportes do Grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto. “Da porteira pra fora, a redução de custo que se ganha na produção se perde na logística.” Desde 1994, os investimentos anuais em infraestrutura correspondem a cerca de 2% do PIB, em média.
Segundo um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil precisa dobrar esse percentual nos próximos 20 anos para chegar ao mesmo nível de infraestrutura do Chile, país que tem o melhor desempenho nesse quesito na América Latina. “Grandes investimentos em infraestrutura serão essenciais para o Brasil ter um crescimento forte e sustentável por um longo período”, afirmam os economistas Annabelle Mourougane e Mauro Pisu, responsáveis pelo estudo. Nos próximos anos, o Brasil vislumbra um cenário melhor. Desde 2007, os investimentos em infraestrutura apresentam uma ligeira alta. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é um dos grandes responsáveis por isso.
Em sua primeira fase, concluída em 2010, foram destinados cerca de R$ 620 bilhões em obras nas áreas de habitação, saneamento, transportes e energia. A segunda fase, que será concluída em 2014, já soma investimentos de R$ 665 bilhões, até agosto deste ano. A iniciativa privada terá um papel importante nesse processo. Em 2012, o governo privatizou três aeroportos: Cumbica, Viracopos e Brasília. Em novembro, foi a vez dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e Confins, em Belo Horizonte. Além disso, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 devem contribuir para fazer do Brasil um país mais fácil de se trabalhar. “Com o real, conseguimos fazer planos de longo prazo, coisa que não tínhamos no tempo da inflação galopante”, afirma Fontana, da Cosan. Os tempos e o debate econômico, agora, são outros.