07/06/2013 - 21:00
A primeira-dama chinesa, Peng Liyuan, fez um pedido inesperado durante a sua passagem pelo México, na semana passada, quando acompanhou o marido, Xi Jinping, em sua visita oficial ao presidente Enrique Peña Nieto. Peng é fã das novelas mexicanas, e quis conhecer os estúdios do canal Televisa, em companhia da primeira-dama mexicana, Angélica Rivera, atriz famosa em seu país. Enquanto as mulheres exploravam suas afinidades com a cultura popular, seus maridos firmavam acordos para intensificar o intercâmbio comercial. Embora não tenham tratado de zonas de livre comércio, a aproximação dos dois países mostra que o México não está perdendo tempo para explorar parcerias com todos os continentes.
Demolindo barreiras: Pedro Passos, do Iedi, em fotomontagem no Muro de Berlim.
O empresário diz que não tem medo da abertura comercial
Além de sua aliança natural com os Estados Unidos por meio do Nafta desde os anos 1990, o país completou na semana passada um ano de participação na Aliança do Pacífico, que reúne o Chile, o Peru e a Colômbia para o comércio livre de tarifas de uma infinidade de itens. Essa desenvoltura mexicana em sua política comercial provocou uma reação das lideranças empresariais brasileiras, que decidiram pressionar o governo a buscar mais acordos comerciais, tentando recuperar o terreno perdido para outros países. O sucesso do seu principal rival latino, somado aos pálidos resultados do PIB, divulgados no final de maio, levaram entidades como CNI, Fiesp, Iedi e o Conselho Empresarial da América Latina (Ceal) a se unirem numa cobrança explícita, desde a semana passada, por mais ousadia do governo para abrir o País ao comércio internacional, e a fazer um debate mais profundo sobre os limites do Mercosul.
“Estamos superando uma etapa onde a prioridade total era o mercado interno”, diz Pedro Passos, presidente do Iedi e um dos sócios da Natura. “O consumo local já não é mais suficiente para dar todas as respostas que o setor produtivo procura.” A ansiedade dos empresários não se deve somente ao desempenho do México, que já deixou para trás o Brasil em termos de competitividade, como mostrou o último ranking da escola de negócios suíça IMD, no final de maio (o México é o 32º da lista, 19 posições à frente do Brasil). O grande temor é o namoro entre o EUA e a União Europeia, que firmaram em fevereiro uma carta de intenções de um acordo de livre comércio dentro de dois anos.
Novos acordos: Ingo Plöger, do Ceal, pede urgência na elaboração
de tratados comerciais com países e blocos econômicos
“Estamos fora desse circuito, enquanto outros países estão correndo em velocidade alta”, diz Ingo Plöger, presidente do Ceal. Embora a abertura brasileira já fosse defendida por empresas brasileiras mais internacionalizadas, assumir em bloco uma briga por uma maior abertura comercial mostra uma mudança radical do empresariado, que esteve sempre mais propenso a pedir proteção do mercado interno por meio de tarifas de importação. Foi assim em 2011, por exemplo, quando o País aumentou em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos veículos importados, para refrear o avanço dos carros chineses no mercado.
Trata-se, ainda, de uma cartada ousada, embora necessária, para um país que está atrasado em termos de inovação e produtividade. “A indústria vai se transformar”, diz Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI. “Será uma nova realidade que pode doer, em alguns casos, mas que vai trazer benefícios.” A dor a que se refere Abijaodi é a competição acirrada com produtos mais baratos e inovadores que podem chegar ao Brasil com mais facilidade, sem o pedágio dos impostos de importação. Essa nova realidade fará literalmente sangrar algumas empresas, que poderão fechar nesse novo cenário.
Porém, é a única saída para empurrar os setores que mais resistiram até hoje à abertura para a modernização e o alinhamento com o mundo. Se por um lado as empresas ganham centenas de competidores de um dia para a noite, elas passam a ter a chance de importar tecnologia e insumos mais baratos. “Não temos medo da abertura, até porque a competição internacional já está em curso no País”, afirma Ingo Plöger. “Teremos estresse? Sim. Mas o Brasil tem de fazer isso.” Para Pedro Passos, do Iedi, só a abertura comercial fará o País assumir uma agenda competitiva, que trará um choque de eficiência. “A produtividade dentro das empresas só virá com a integração internacional”, diz.