12/09/2012 - 21:00
Na próxima semana, ela mostra o HB20, seu carro desenvolvido exclusivamente para o mercado brasileiro, que sairá de sua unidade industrial de Piracicaba, também em São Paulo. A meta do coreano Chang Kyun Han, presidente da subsidiária brasileira, para o veículo compacto é ousada: alcançar uma fatia de 10% de participação, nos próximos cinco anos. Com isso, brigará pneu a pneu com a americana Ford, a quarta colocada no ranking brasileiro. “Seguindo a família HB20, teremos uma versão sedan e outra com visual aventureiro, ambas previstas para o primeiro semestre de 2013”, afirmou Han à DINHEIRO.
O executivo, que presidia a Hyundai Europa e era responsável por 29 países, não terá de começar do zero sua missão para conquistar mercado no Brasil. Ele encontrará no País uma marca reconhecida e forte, graças ao trabalho realizado nos últimos anos pelo grupo Caoa, do empresário paraibano Carlos Alberto de Oliveira Andrade. Até a segunda metade da década de 1990, os carros da marca coreana eram considerados cópias malfeitas dos japoneses. Além disso, eram feios. E, pior, pouco confiáveis. Estão ainda na memória de alguns consumidores modelos como o Excel e o Atos Prime, que viraram sinônimos de micos.
Com uma estratégia comercial agressiva e um investimento maciço em marketing, Andrade conseguiu reverter essa imagem, a partir de 1997, apostando em veículos sofisticados com preços muito mais competitivos que os equivalentes em suas categorias. Os números indicam que a estratégia deu resultado. Em 2009, o grupo Caoa, que é importador exclusivo da marca, vendeu 71 mil veículos. No ano passado, foram 115 mil. “Vender veículos de alto padrão tornou a Hyundai uma marca muito desejada pelo consumidor brasileiro”, diz Mello, do Centro de Estudos Automotivos. “Com uma boa imagem no Brasil, ficou mais fácil para a Hyundai atuar no segmento popular.”
NOVA FASE Com a entrada da subsidiária brasileira na categoria de entrada do setor, o Brasil irá conviver com duas Hyundais. Uma da Coreia, que atuará com carros populares. E a do grupo Caoa, focada em veículos mais luxuosos. Serão também duas fábricas. Além da de Piracicaba, há a de Anápolis (GO), onde são produzidos o utilitário esportivo Tucson e os caminhões HR e HD, que pertencem ao Caoa. Até abril de 2013, deverá sair da linha de montagem da fábrica goiana o iX35, um SUV topo de linha. Ao contrário do que possa parecer, essas duas Hyundais estão se entendendo bem. Um exemplo disso é que as duas irão dividir os custos do estande do Salão do Automóvel, que acontece a partir de outubro, em São Paulo.
O grupo Caoa também comprou antecipadamente cotas de patrocínio para a tevê da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. E depois, a pedido de executivos da Coreia, rateou os custos com os seus parceiros de Seul. A relação harmoniosa entre as partes é boa para as vendas e bem-vista também em Brasília. O governo federal reconhece como positiva a associação de um grupo brasileiro, que realizou investimentos e gerou empregos, à marca. Outro exemplo dessa sintonia é a rede de concessionárias que está sendo montada para comercializar o HB20. “Ainda neste ano, abriremos, pelo menos, 100 pontos de venda exclusivos para o modelo”, diz Han. De acordo com o executivo, o grupo Caoa, assim como outras redes, está negociando para também comercializar o HB20.
A rede pode parecer pequena, quando comparada às de rivais como Volkswagen e Fiat, que contam com mais de 500 concessionárias cada uma. Mas, segundo especialistas, é do tamanho ideal. “É saudável que cada concessionária tenha a possibilidade de comercializar cerca de 1,5 mil veículos por ano”, afirma Valdner Papa, coordenador do curso de gestão de concessionárias da Trevisan Escola de Negócios. Outra investida de Han para acelerar as vendas do HB20 foi um acordo com o banco Santander para o financiamento dos carros produzidos em Piracicaba. “Nosso plano é desenvolver produtos de financiamento diferenciados, com vantagens e facilidades específicas para nossos carros”, disse Han, ao anunciar a parceria em agosto deste ano.
Não é só a Hyundai que está enxergando uma oportunidade na área de carros compactos. A japonesa Nissan também vem conseguindo bons resultados com a venda do March, importado do México desde o segundo semestre de 2011. Graças às vendas desse modelo, a Nissan aumentou sua participação de mercado de 1,6% para 3,5% em 12 meses. Nos oito primeiros meses deste ano, suas vendas cresceram 117%, a maior entre todas as montadoras presentes no País. Em 2014, ela inaugurará uma fábrica em Resende (RJ) para fabricar exatamente esse carro popular. Fiat, Volkswagen, GM e Ford também não estão paradas.
“Elas não estão de braços cruzados”, diz o consultor André Beer, da André Beer Consult & Associados e ex-vice-presidente da GM. “E apostar no segmento de populares é a única maneira de se manter no topo”. A Volkswagen, por exemplo, já anunciou que até 2014 lançará o novo subcompacto Up. A Fiat não confirma, mas deverá produzir um modelo semelhante ao da rival alemã em sua nova fábrica pernambucana de Goiana. A GM, por sua vez, também está se mexendo e deverá lançar até o final deste ano o Onix, que substituirá o seu popular Celta. A Ford, por fim, já anunciou investimentos de R$ 800 milhões para o desenvolvimento de um novo compacto, na unidade de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.