10/12/2015 - 18:13
Ayrton Senna dependia apenas daquela vitória para sagrar-se campeão da Fórmula 1 pela primeira vez. Mas Senna ficou para trás. Na largada, o motor de sua McLaren demorou para pegar, levando o piloto, que ocupava o primeiro lugar no grid, à 14ª posição. Quem voltou para a cama naquela madrugada de domingo perdeu uma das corridas mais eletrizantes da história: ao fim da primeira volta, Senna já estava na oitava posição. Na volta seguinte, o brasileiro apareceu em sexto; na 11ª estava em terceiro lugar.
Mas foi na 27ª volta que Senna garantiria o título mundial de 1988, ao ultrapassar o companheiro de equipe Alain Proust, chegando à final do GP do Japão em primeiro lugar. O episódio tem tudo para servir de inspiração para a Tag Heuer no Brasil. Não apenas pelo fato de Senna ser o homenageado de uma coleção especial da marca, que acaba de chegar às lojas. Mas sobretudo pela necessidade de recuperar o tempo perdido. Assim como Senna perdeu a largada em Suzuka, e acabou ultrapassado pelos demais pilotos, a grife de relógios de luxo também deixou o Brasil para depois – e agora corre para se aproximar de concorrentes como Rolex e Omega.
“A marca estava muito tranquila aqui. Vamos tirar esse atraso e acredito que, em 12 meses, estaremos na liderança”, diz à DINHEIRO Freddy Rabbat, que acaba de assumir a distribuição da Tag Heuer no Brasil, papel até então exercido pela rede de joalheiras H. Stern. As empresas preferem não comentar o fim da parceria, mas a reportagem apurou que um dos motivos seria a impossibilidade de ampliar o número de corners da Tag Heuer nas lojas da joalheria. Essa deve ser uma das principais missões de Rabbat à frente da grife suíça.
Expertise não lhe falta: especialista no segmento de luxo, foi ele o responsável por introduzir a alemã Montblanc no mercado brasileiro. Agora, ele conta com o aval da Tag Heuer não apenas para aumentar os investimentos em mídia, mas também ampliar o número de revendedores, que deve sair dos atuais 30 pontos de venda para 70 até o final de 2016. “Essa história de ter um display não conta nada. Vamos investir em ambientes Tag Heuer, com paredes inteiras, imagens, móveis com a cara da grife e, principalmente, vendedores treinados, que saibam contar o conceito por trás de cada peça”, diz Rabbat.
Nesse primeiro momento, a ideia é trabalhar somente com revendedores, mas a marca – que tem apenas uma boutique no País, na cidade de São Paulo – pretende abrir novas unidades exclusivas ao longo do próximo ano. Outra novidade para 2016 é a chegada ao Brasil do badalado Connected, o primeiro smartwatch da grife, feito em parceria com Google e Intel. Com tudo isso, a Tag Heuer acredita que poderá para abocanhar uma fatia maior de um mercado que já movimenta R$ 645 milhões no Brasil, segundo a Euromonitor.
O timing dessa retomada, em meio à crise econômica, parece não incomodar a marca suíça. Lá fora tem sido assim, apesar da freada no mercado chinês. A controladora LVMH, dona também de marcas como Louis Vuitton, não revela os números da Tag Heuer, mas as vendas da unidade de relógios e joias, da qual a grife suíça faz parte, cresceram 10% no primeiro semestre deste ano, na comparação com igual período de 2014. O bom resultado está ligado a um reposicionamento da marca em todo o mundo. Iniciado há pouco mais de um ano, o plano tem incluído preços mais competitivos.
Se o relógio da concorrência custa US$ 5 mil, a Tag Heuer busca oferecer um produto equivalente na faixa de US$ 3 mil. “Continuamos sendo uma marca forte, que as pessoas desejam. Mas com um preço correto”, diz Christian Weissbach, presidente da marca para América Latina e Caribe, que esteve no País para o lançamento da coleção em homenagem a Senna. Segundo Rabbat, a estratégia dos preços intermediários também vem a calhar na atual conjuntura brasileira. “Essa é a hora de apostar no País. Quando o mercado está bombando, você é só mais um. E agora que os outros cansaram de nadar, a Tag Heuer chega com fôlego total”, diz.