20/12/2013 - 21:00
Pular ondas, comer sementes de romã e lentilhas… Nem mesmo as simpatias tradicionais do Ano Novo vão facilitar a vida das corretoras em 2014. O principal desafio será driblar a ausência de clientes. O número de pessoas físicas que investem em ações deverá encerrar 2013 ao redor de 592 mil, uma fração dos cinco milhões sonhados para o ano que vem. A falta de apelo tem feito as receitas das corretoras, em especial das independentes, caírem mês após mês, pois elas vivem primordialmente da taxa que cobram para comprar e vender ações. Mesmo tendo enxugado custos e investimentos em 2013, muitas ainda buscam alternativas para não fecharem as portas.
Martin Lee, da Mirae: “A única solução para vencer tempos difíceis é continuar angariando clientes”
Segundo fontes ouvidas pela DINHEIRO, Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, tem dito em conversas reservadas que apenas metade das cerca de 80 corretoras hoje em atividade deve continuar a funcionar nos próximos anos (procurado, o executivo não deu entrevista). Na tentativa de reverter esse quadro, a Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras (Ancord) criou um comitê estratégico para discutir novos modelos de atuação. Representantes da Bolsa e das corretoras reuniram-se a portas mais do que fechadas na quinta-feira 19. A Bolsa mantém sua estratégia, revelada pela DINHEIRO em março de 2013, de dividir as corretoras em dois grupos.
Um deles será as casas de porte, chamadas de participantes de negociação plenos (PNP), e terá estrutura para executar ordens das concorrentes pequenas e médias, as participantes de negociação (PN). Com a mudança, as corretoras menores terão de investir menos em tecnologia, podendo destinar esses recursos para outras áreas. O plano tem duas vantagens. Uma é facilitar a vida de corretoras que teriam de fechar as portas por serem incapazes de atender às novas exigências; outra é vincular umbilicalmente as casas à Bovespa, criando um empecilho a mais para outras bolsas interessadas em atuar no Brasil.
A primeira a tornar-se um participante de negociação pleno foi a portuguesa CGD, antiga Banif. A casa já presta serviços para oito corretoras, uma lista que inclui nomes tradicionais da Bolsa, como Magliano e Souza Barros, além de Banestes, Fram, NSG, Máxima, Solidez e Omar Camargo. “Estamos conversando com mais três corretoras e um banco”, diz Everson Ramos, diretor adjunto da CGD, que pretende assinar os acordos ainda no primeiro trimestre de 2014. “Além de ser um novo modelo de prestação de serviços e de receita, conseguimos preencher o espaço de infraestrutura que tínhamos à disposição.”
O cenário promete ficar mais inóspito. Em 2014, as corretoras terão de que se enquadrar às novas regras para os agentes autônomos, prestadores de serviços que terão de ser contratados segundo a legislação trabalhista. A partir de 2015, esses profissionais não poderão atender investidores institucionais. Se o fizerem, a corretora perde o selo de qualificação do Programa de Qualificação Operacional (PQO), exigência da maioria dos grandes bancos e fundos. Pela primeira vez, desde que o programa foi criado, uma corretora perdeu o selo.
Everson Ramos, CGD: oito casas já estão sob o guarda-chuva da corretora
e mais quatro devem assinar acordo em 2014
No fim de novembro, a Ativa foi comunicada que não detinha mais a qualificação. A tradicional casa carioca informou que a auditoria realizada em abril de 2013 ainda não refletiu plenamente os aprimoramentos operacionais implementados. “Mas asseguramos que, na nova avaliação, em 13 de janeiro, reconquistaremos”, disse a Ativa, em nota. Para sobreviver e crescer, as empresas mais agressivas apostam no crescimento e na diversificação. É o caso da XP Investimentos, que tem um patrimônio de R$ 107,6 milhões.
A corretora já possui um escritório em Nova York e planeja abrir outro em Miami no primeiro semestre de 2014 para atender investidores brasileiros e os vizinhos latino-americanos que quiserem investir nos Estados Unidos. “A expectativa é quintuplicar a nossa receita lá fora”, diz Alejandro Rebelo, sócio da XP. O próximo passo pode ser abrir filiais em países da América Latina. “A ideia é que a XP internacional seja maior até do que a brasileira.” A aposta da coreana Mirae também é procurar investidores de fora. Segundo o presidente Martin Lee, a casa vai atravessar a turbulência do ano que vem com a venda de produtos brasileiros para coreanos.
“A única solução para vencer tempos difíceis é continuar angariando clientes, e nós tentamos fazer isso oferecendo qualidade e cobrando as menores taxas de prestação de serviços”, afirma. Lee não descarta a possibilidade de a Mirae se tornar um participante de negócios pleno. Já a estratégia da SLW tem sido investir em diversificação: desde gestão de recursos até plataforma de renda fixa. “Estamos no caminho de nos fortalecermos como uma casa independente, tanto que equalizamos os custos, o que pode acabar atraindo parceiros menores”, diz Antonio Milano Neto, CEO da SLW.