15/10/2015 - 18:39
Passava do meio dia, na quinta-feira 8, quando uma pequena multidão se aglomerava sob a marquise da entrada de acesso ao pavilhão do Anhembi, em São Paulo. Ali, cada pedaço de sombra era bastante disputado, naquela tarde quente de primavera. Mas ninguém reclamava. A ansiedade era visível no rosto de homens e mulheres, de faixas etárias bastante variadas, todos ávidos por conhecer as motocicletas apresentadas na edição 2015 do Salão de Duas Rodas. Uma cena que contrasta com a queda generalizada nas vendas do setor automotivo, em geral, e o de duas rodas, em particular.
Este último mergulhou num ritmo decrescente desde o pico de 1,9 milhão de unidades comercializadas em 2011, para 1,39 milhão, no ano passado, responsáveis por uma receita global de R$ 13,6 bilhões. “Nossa expectativa é de que haja uma retomada de forma lenta e gradual das vendas”, afirma Alexandre Cury, diretor comercial da Moto Honda da Amazônia. Segundo ele, inúmeros sinais nesse sentido já são visíveis. A começar pelo volume de comercialização de motocicletas usadas, que se mantém no patamar de dois milhões de unidades no período de 12 meses.
“O brasileiro precisa da motocicleta para trabalhar, seja por uma questão de mobilidade ou por economia”, diz Paulo Takeuchi, diretor executivo de relações institucionais da montadora japonesa. Para conciliar o desejo dos brasileiros que sonham em comprar ou trocar de motocicleta, com o aperto na concessão de crédito, a Honda vem lançando mão de dois trunfos em relação à concorrência: seu banco e seu consórcio. Atualmente, esses dois canais respondem por metade das vendas dos veículos da marca.
O destaque é o consórcio, pelo qual a empresa já entregou cinco milhões de veículos e que possui uma carteira de dois milhões de clientes ativos. “O Banco Honda se tornou líder em financiamentos sem sacrificar a qualidade de sua carteira de crédito”, afirma Takeuchi. Para manter a confortável posição de liderança, hoje no patamar de 80%, os japoneses vêm investindo fortemente na renovação do portfólio. “Em vez de mexermos apenas no visual, decidimos alterar completamente a maioria dos modelos”, afirma Cury. As mudanças incluíram até o desenvolvimento de novos motores.
Um bom exemplo desse movimento é a família CG que ganhou um upgrade de 150 cilindradas para 160 cilindradas. É fato que as exigências legais de redução das emissões de poluentes pesaram na decisão. Contudo, a Honda aproveitou o momento para tentar se firmar como empresa inovadora. Tanto no segmento de acesso, quanto nas no de maior potência, destinadas aos consumidores do topo da pirâmide. “Nossas motocicletas vão emitir menos poluentes e consumir menos combustível, sem perda de performance”, diz Cury.
Os executivos não revelam os valores investidos nessas operações. Contudo, fica evidente que não deve ter sido pouco dinheiro. Afinal, o pacote contempla o relançamento da Twister, modelo que partiu do zero e cujo desenvolvimento durou cerca de dois anos, entre a prancheta do designer e o início de sua produção. A última grande renovação de linha aconteceu em 2009, também para atender a mudança do limite de emissões.
Cury explica que além das obrigações legais, a empresa também vem guiando suas estratégias a partir de pesquisas junto aos consumidores. A sintonia fina com os consumidores é vital para uma operação extremamente verticalizada, que produz cerca de 70% seus componentes no Brasil. “Temos feito pesquisas regulares com os clientes, para coletar dados que embasem nossa estratégia”, afirma o executivo. “É aí que a rede composta por 1,3 mil pontos de venda faz toda a diferença.”