A fabricante americana de câmeras GoPro viveu uma espécie de lua de mel com os investidores na última semana. A companhia, cujo único produto é uma pequena filmadora, que virou febre entre os praticantes de esportes radicais e se tornou a câmera mais vendida no mundo, abriu, na última semana de junho, o capital na Nasdaq, bolsa americana que concentra empresas de tecnologia, arrecadando US$ 420 milhões. Suas ações não pararam de subir por uma semana. O valor dos papéis dobrou de US$ 24 para US$ 48, registrado em 1º de julho.

A empresa, que faturou no ano passado US$ 985 milhões, atingiu um valor de mercado de US$ 6 bilhões e seu fundador, o surfista Nick Woodman, se tornou o feliz proprietário de uma fortuna de US$ 2 bilhões. Mesmo com o bom desempenho das vendas – que quase dobraram no período entre 2012 e 2013 – e das ações, diversos analistas ponderavam que a empresa estaria supervalorizada. Na quarta-feira 2, os investidores deram sinais de que a lua de mel estava acabando. As ações da GoPro tiveram uma queda superior a 10%. O declínio tem relação com movimentos especulativos, é verdade.

Mas há outro motivo para as dúvidas em relação ao sucesso da companhia. Seu público é formado basicamente por amantes de esportes radicais e profissionais da fotografia. Trata-se de um mercado fiel, mas muito restrito. Para manter os papéis em alta, a GoPro terá de aumentar sua clientela. E a empresa encontrou no Brasil e na Copa do Mundo o local e o cenário ideais para ampliar a freguesia. Com os olhos de mais de três bilhões de pessoas voltados para o Mundial de futebol, a GoPro quer mostrar que sua minicâmera pode ser usada pelos torcedores nas arquibancas, por qualquer turista, além de ser uma ferramenta discreta para filmar em alta resolução os jogos da competição.

O sucesso da fabricante contrasta com a decadência do mercado de câmeras. Segundo dados da Cipa, associação americana que representa as empresas do setor, somente no ano passado a produção despencou 40%. O fraco desempenho se deve à popularização dos smartphones, capazes de realizar a mesma tarefa e muitas outras mais. “Nós estamos crescendo na era do smartphone”, afirmou Woodman a uma tevê americana. “Fazemos sucesso porque oferecemos uma perspectiva diferente, na qual as pessoas podem se retratar fazendo o que gostam.”

Na semana de início da Copa, a GoPro lançou uma série de vídeos na internet retratando o futebol. Trata-se de uma estratégia para conquistar os consumidores não adeptos de práticas como bungee jump, paraquedismo, skydiving e outros esportes para viciados em adrenalina. A GoPro se apoia na produção de conteúdo para impulsionar as vendas. Ao mesmo tempo, tenta fazer dinheiro com sua marca. A ideia é vender filmes e programas de tevê, numa estratégia parecida com a adotada pela fabricante de bebidas energéticas Red Bull.

“O sucesso da GoPro depende da área de conteúdo”, afirma Ben Y. Zhao, professor de tecnologia da Universidade de Santa Bárbara, nos Estados Unidos. “Pessoalmente, acredito que sua tecnologia será ultrapassada por empresas como o Google ou a Apple.” Além de atrair consumidores com o futebol, a GoPro fez algumas mudanças em sua distribuição no País. Até o ano passado, a Brasil Racing, empresa especializada em artigos esportivos, era a única distribuidora das câmeras por aqui.

A partir deste ano, a importadora paulista Opeco passou a dividir a tarefa. A Brasil Racing ficou com o varejo esportivo. Já as lojas de eletrônicos e grandes magazines ficaram sob responsabilidade da nova parceira. Segundo pessoas por dentro das operações, a Opeco já ultrapassou, com folga, a antiga distribuidora em vendas. É um sinal de que a GoPro pode sonhar com voos menos radicais e mais lucrativos, com os pé, literalmente no chão.

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