11/12/2015 - 20:00
Os funcionários do Banco Santander Brasil que buscam melhorar o físico malhando na academia do banco já não estranham mais. Nos dias em que está em São Paulo, Jesús Zabalza, o executivo espanhol que preside o banco por aqui, troca o paletó e a gravata vermelha por roupas de ginástica e, literalmente, sua a camisa. Zabalza é um esportista disciplinado: a fotografia que ilustra esta reportagem foi agendada de maneira a não atrapalhar seu treinamento. Quem o conhece sabe que a disciplina vale fora da academia.
Zabalza assumiu a presidência do Santander Brasil em abril de 2013, No dia 2 de janeiro, ele deve trocar de posição com o brasileiro Sérgio Rial, atualmente presidente do Conselho. O banco que o espanhol entregará está mais capacitado para enfrentar os desafios do mercado do que a instituição que recebeu, há quase três anos. “Quando eu cheguei ao cargo, o Santander era o líder em reclamações no site do Banco Central, e hoje nem sequer aparecemos”, diz Zabalza à DINHEIRO.
Seu principal desafio foi transformar uma instituição financeira que nasceu a partir da compra do Banespa, no ano 2000, e que praticamente dobrou de tamanho em 2008, quando adquiriu as operações brasileiras do holandês ABN Amro. O Santander que Zabalza assumiu era grande, mas não eficiente. Muitos processos eram duplicados e o fluxo de informações era moroso. Para complicar, a orientação da matriz era manter o banco líquido, para assegurar disponibilidade de caixa em caso de necessidade.
Na prática, isso impediu o Santander de surfar nas ondas de crescimento do crédito de 2010 a 2012. Além disso, o banco captou R$ 14,4 bilhões em bolsa em 2009, em uma das maiores aberturas de capital brasileiras, e passou a operar sob o agudo escrutínio do mercado. Para melhorar o desempenho, o banco reforçou dois músculos, o da tecnologia e o dos processos. O primeiro demandou investimentos vultuosos: um novo centro de processamento de dados, inaugurado em Campinas em junho de 2014, consumiu, sozinho, R$ 1,1 bilhão.
O segundo levou à revisão de práticas que provocavam ineficiência. Um exemplo banal foi o dos comunicados enviados todos os dias à linha de frente, os gerentes das agências, em geral escritos na língua cifrada dos técnicos. “Uma medida simples, como contratar pessoas para editar os textos, reduziu as dúvidas e acelerou os processos”, diz o executivo. As mudanças passaram pelo uso intensivo da tecnologia móvel. Um problema recorrente de qualquer banco são os caixas automáticos, que costumam dar problema na pior hora possível – quando o cliente precisa deles, em um feriado ou em um fim de semana.
Para minimizar as dores de cabeça (e as reclamações no Banco Central), o banco desenvolveu um aplicativo para smartphone para ser baixado pelos funcionários, que podem avisar o departamento de reparos. Toda essa ginástica, claro, não veio sem algumas contusões. O banco substituiu boa parte de seus executivos ao longo dos últimos meses. As mudanças se aceleraram a partir de setembro do ano passado, quando a morte do presidente Emílio Botín transferiu o comando para sua filha Ana Patrícia, que privilegiou a indicação de executivos nacionais para presidir as subsidiárias fora da Espanha.
Lentamente, os resultados melhoraram. Durante 2013 e 2014, o lucro trimestral do Santander Brasil oscilava ao redor de R$ 600 milhões. Neste ano, considerando-se um resultado não recorrente no segundo trimestre, a média mais que triplicou, para R$ 1,94 bilhão. O Santander permanece líquido, mas conseguiu melhorar a margem de lucro obtida com os empréstimos, mesmo mantendo sua fatia do crédito estável ao redor de 9%, segundo dados do Banco Central. O mercado parece gostar. Na quinta-feira 10, o Santander valia cerca de R$ 57 bilhões na Bovespa.
É uma cifra muito parecida com a que valia no fim de março de 2013, último trimestre sob a direção de Marcial Portela, antecessor de Zabalza. Pode parecer um desempenho pouco brilhante, mas, na concorrência, apenas o Itaú Unibanco apresentou o mesmo resultado. A crise afastou os investidores internacionais, grandes compradores de papéis de bancos, e derrubou a capitalização bursátil dos concorrentes. Nesse período, o valor de mercado do Banco do Brasil recuou 34% e o do Bradesco encolheu 22%. “O banco vem mantendo seu valor de mercado, o que é um sinônimo de alta em um cenário tão ruim para a Bolsa”, diz um analista de um banco de investimentos internacional.
Para acelerar seu crescimento, o Santander foi fundo na disputa pelo britânico HSBC, adquirido pelo Bradesco no início de agosto, de olho nas grandes empresas com negócios fora do Brasil e nos clientes de alta renda. No entanto, o preço desanimou os espanhóis. Agora, o Santander vai se concentrar no crescimento orgânico, apoiado nos pilares dos empréstimos consignados e dos seguros, e nos pagamentos móveis, por meio da subsidiária GetNet, adquirida no ano passado. “Vamos ampliar a base de clientes”, diz Zabalza. No entanto, como a crise não dá sinais de arrefecer, ainda será preciso suar muito a camisa.