17/01/2014 - 21:00
A partir de 2009, a americana General Electric (GE) viveu uma espécie de encantamento com o mercado brasileiro. Com os Estados Unidos em crise, o Brasil passou a ser peça-chave na estratégia da companhia fundada pelo criador da lâmpada elétrica, Thomas Edison, dona de um faturamento global de US$ 150 bilhões no ano passado. Tal sentimento se refletiu na agenda do CEO Jeff Immelt, para quem o País se transformou numa espécie de menina dos olhos. Trata-se de uma postura bem diferente da de seu lendário antecessor Jack Welch, que veio apenas uma vez ao Brasil nas duas décadas em que comandou a gigante de Fairfield, no Estado de Connecticut.
Peralta, CEO: o executivo assumiu o cargo com o desafio de conduzir as operações
passada a euforia com o Brasil
Essa atenção especial foi ratificada em 2010, quando o executivo anunciou investimentos de US$ 570 milhões até 2013 para a subsidiária local. Essa fase de deslumbramento com o Brasil, seu terceiro maior mercado, ao que tudo indica, ficou no passado. Isso não significa, que a GE esteja reduzindo sua presença por aqui. Ao contrário. No ano passado, Immelt ampliou o montante de investimentos autorizados para US$ 1,3 bilhão, a ser desembolsado até 2016. Mas o certo é que esses números poderiam ser ainda mais vistosos, caso os planos para o País tivessem acontecido exatamente como planejavam seus executivos e não tivessem sido atrapalhados por entraves governamentais e dificuldades sofridas por empresas de setores essenciais para os negócios da GE no Brasil, como os de petróleo e ferroviário.
Lidar com esses problemas é o principal desafio do novo presidente da subsidiária, Gilberto Peralta. O executivo, que respondia pela divisão de leasing de aviões da GE Capital, o braço financeiro do grupo americano, assumiu o comando da empresa no País em outubro do ano passado. Um bom exemplo das dificuldades a serem enfrentadas por Peralta e sua equipe vem da fábrica de locomotivas, em Contagem (MG). A planta teve, em 2011, a sua capacidade de produção duplicada, para 120 unidades por ano. No entanto, apenas 47 delas, menos da metade, foram entregues no ano passado. “Estamos aproveitando essa ociosidade para prestar serviços de manutenção”, diz Peralta, em sua primeira entrevista como CEO da companhia. “Não podemos demitir essa mão de obra treinada, na qual investimos.”
Mão na massa: fábrica de turbinas, em Petrópolis (RJ), se modernizou, como parte
do programa de US$ 1,3 bilhão em investimentos
A saída para o problema, afirma, depende do “destravamento” do setor ferroviário, que só acontecerá depois de o governo fazer o leilão de ferrovias, programado para este ano. Na área de petróleo, a companhia foi afetada pela derrocada do império do empresário Eike Batista. A GE havia comprado, por US$ 300 milhões, uma participação de 0,8% no grupo EBX, em 2012, e precisou dar uma baixa contábil de US$ 108 milhões em seu balanço global, um ano depois. “Isso foi um investimento feito e agora está feito”, diz Peralta, com um sorriso de resignação. De acordo com ele, de qualquer forma, a empresa não pode sair do Porto de Açu, idealizado por Batista, no Rio de Janeiro, independentemente de quem vá concluir o projeto. “Não dá para operarmos sem aquilo”, afirma Peralta.
Considerando a proximidade com o Porto, a GE até chegou a aplicar US$ 50 milhões na modernização de uma fábrica em Macaé , na bacia de Campos, no litoral fluminense, para fazer a manutenção de equipamentos de exploração. O rastro negativo de Batista também contaminou as encomendas feitas à GE, que não foram pagas e sobre as quais Peralta se recusa a comentar. Cabe a ele apenas aguardar o resultado das renegociações de dívidas, que devem ser feitas diretamente com a matriz da GE. Mas nem tudo são más notícias. Na área de petróleo, por exemplo, existem expectativas positivas. “Nos próximos dois ou três anos, haverá uma demanda muito grande por equipamentos, e temos produtos para o ciclo completo de exploração de petróleo”, afirma Peralta.
A partir deste ano, a GE Brasil começa também a entregar uma série dos mais importantes investimentos anunciados por Immelt (veja quadro ao lado). O primeiro deles é o centro logístico em Niterói (RJ), que exigiu aportes de US$ 100 milhões em investimentos. Ele será uma base para o transporte de equipamentos a poços da Petrobras. Em março, com a presença de Immelt, será inaugurado o centro de pesquisas e desenvolvimento, de US$ 500 milhões, no parque Tecnológico da UFRJ, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Será apenas o quinto da empresa no mundo. No mesmo local, vai operar a Crotonville Rio, a versão latino-americana da celebrada universidade corporativa criada pela GE ao norte de Nova York, reconhecida por preparar os executivos da empresa com um forte conteúdo de técnicas de gestão.