A agitação dos últimos dias no mercado cambial tem causado calafrios nos executivos das principais marcas de carros importados com representação no País. A alta do dólar, que atingiu na semana passada o maior patamar em cinco meses (R$ 2,44), afeta diretamente as vendas desse nicho de mercado, que tem marcas de luxo, como Ferrari, Porsche e Jaguar, e “populares”, como JAC e Kia. “O câmbio é a maior preocupação do importador, pois determina a rentabilidade do negócio”, diz Flavio Padovan, presidente da Jaguar Land Rover para a América Latina e o Caribe. 

 

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Bate-papo: a alternativa para o dólar em alta é negociar com a montadora

e evitar reajustes nos preços, diz Visconde, da Stuttgart,

que representa a Porsche no Brasil

 

“No escritório, eu olho para o câmbio de hora em hora.” O encarecimento da moeda americana foi um dos responsáveis pela queda de 13,7% nas vendas de veículos importados no ano passado. “Ao contrário do que algumas pessoas pensam, carro premium também tem sensibilidade a preços”, diz Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, que representa a Porsche no Brasil. Com raras exceções, as importadoras optam por não contratar hedge (proteção financeira), devido ao custo da operação. Segundo o executivo, quando há uma desvalorização abrupta do real, a saída é negociar com os chefões lá fora. 

 

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Olho no lance: Padovan, da Jaguar Land Rover, confere a todo momento

a cotação do dólar para calcular a rentabilidade do negócio

 

“Buscamos um bom papo com a matriz, na Alemanha, para dividir um pouco o prejuízo”, diz Visconde. “O objetivo final é evitar um reajuste na tabela de preços.” Além do câmbio, há outras barreiras que atrapalham o setor de carros importados. Desde 2012, o governo federal adicionou 30 pontos percentuais ao IPI das marcas que não têm fábricas no Brasil, estabelecendo uma cota de veículos que são isentos da tributação extra. O objetivo é forçar as montadoras a passar a produzir aqui, exatamente como já fizeram nomes como a JAC Motors, BMW, Audi, Jaguar Land Rover e Chery. 

 

A JAC Motors, por exemplo, tem direito a importar 20 mil veículos por ano com isenção dos 30 pontos de IPI, enquanto sua fábrica em Camaçari, na Bahia, estiver sendo construída. “Nosso faturamento vai crescer neste ano, pois vamos trazer modelos mais sofisticados para o mercado brasileiro”, diz Sergio Habib, presidente da JAC Motors no Brasil. “A produção local começará em meados de 2015.” Na média, a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) prevê um crescimento de 2% nas vendas neste ano. Essa projeção já embute um possível impacto negativo que a realização da Copa do Mundo no Brasil pode causar nos meses de junho e julho. 

 

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Lançamentos: a aposta da JAC Motors, de Sergio Habib, é a chegada

de novos modelos ao País para estimular as vendas dos carros da marca

 

Além de o comércio fechar as portas nos dias de jogos da Seleção Brasileira, há o risco de protestos em grandes cidades, a exemplo do que aconteceu na Copa das Confederações, em 2013. “Por outro lado, a Copa do Mundo estimula promoções, como a distribuição de ingressos para quem compra carros”, diz Padovan, da Jaguar Land Rover, que negocia com a CBF a aquisição de bilhetes para premiar os clientes. Diante da queda da inadimplência nos últimos meses, os empresários preveem uma retomada gradativa do crédito para turbinar as vendas. 

 

No caso da Porsche, que tem modelos que custam de R$ 329 mil a R$ 1,1 milhão, há clientes que preferem utilizar o relacionamento com o seu próprio banco e outros que optam pela instituição parceira da concessionária. “O cliente de alta renda, quando não quer pagar à vista, busca juros baixos e prazos longos, como qualquer outro consumidor”, afirma Visconde. Os importadores também sabem que a sua clientela, formada por executivos e empresários, está antenada no noticiário econômico. Para eles, o recado correto a ser transmitido é de otimismo. “O Brasil real está muito melhor que o Brasil dos jornais”, afirma Habib.

 

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