01/11/2013 - 21:00
Uma das coisas que mais incomodam a presidente da Petrobras, Graça Foster, é a cultura existente em algumas empresas de dizer “não” mesmo antes de uma ideia ser apresentada. Ela defende que o “isso não pode”, seguido por uma cara de desaprovação, é um hábito que deve ser combatido para garantir a sustentabilidade de qualquer negócio. Nos últimos meses, ao defender o reajuste do preço da gasolina, a dirigente da estatal havia recebido um “não” como resposta. Persistiu e ganhou um gatilho que pode aliviar as contas da petrolífera. Foi uma grande vitória, talvez a maior de Graça em seus 20 meses à frente da empresa.
Gatilho: a Petrobras já teve reajustes automáticos para a gasolina
entre 1998 e 2001
Atualmente, não há uma fórmula para o reajuste dos derivados. Mesmo quando o preço do barril dispara no mercado internacional, a palavra final é sempre do conselho de administração da Petrobras, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que prioriza o controle da inflação. Com o dragão domado na marca dos 6%, foi possível fazer essa concessão. A regra do gatilho deve ser detalhada no dia 22 de novembro. Na avaliação de especialistas, a companhia ficará mais transparente. “Se essa política vier a ser implementada, será uma vitória para Graça e para a Petrobras”, diz Marco Tavares, presidente da consultoria Gas Energy.
“O reajuste deixa de ser questão de política econômica e passa a ser questão técnica.” Ainda não se sabe qual será a periodicidade do gatilho. No entanto, a direção da empresa explicou que o reajuste automático nas refinarias levará em conta três fatores: o preço do petróleo no mercado internacional, a taxa de câmbio e sua origem. Ou seja, se o produto é importado e onde é refinado. Essa metodologia já foi discutida internamente e apresentada ao conselho. Mantega, no entanto, tem afirmado que o tema ainda está em discussão e que a adoção de uma regra como essa não pode ser feita de afogadilho.
20 meses: o reajuste automático pode ser a maior vitória de Graça em seu período
à frente da Petrobras
Apesar da preocupação do ministro, há potencial para essa mudança levar ganhos aos cofres públicos, uma vez que o aumento do preço da gasolina irá resultar em maior arrecadação, caso não haja uma redução brusca do consumo. Não é a primeira vez que o Brasil adotará um reajuste periódico. Entre junho de 1998 e dezembro de 2001, o preço da gasolina subia e descia mensalmente, de acordo com o comportamento do dólar e do petróleo, nos três meses anteriores. Tavares calcula que, atualmente, a empresa deixe de faturar entre R$ 14 bilhões e R$ 18 bilhões por ano, devido à defasagem entre o preço no Brasil e a cotação internacional.
São volumes expressivos para uma empresa que tem R$ 39,35 bilhões em caixa. A mudança vem num momento crucial para a estatal. Além de ter de desembolsar os R$ 6 bilhões por sua participação no consórcio que irá explorar o campo de Libra, é elevado o volume de investimentos que estão sob o seu guarda-chuva. Ao mesmo tempo, o seu limite de endividamento está, desde 2011, acima do considerado adequado pela própria Petrobras. Esse indicador é a relação entre a dívida líquida e o Ebitda, que deveria ser de no máximo 2,5 vezes. Em setembro de 2013, chegou a 3,05 vezes. A piora fez a agência Moody’s rebaixar o rating da Petrobras, em 3 de outubro.
Entre os analistas, a nova fórmula de reajuste da gasolina é vista como um expediente para garantir melhores resultados. Luana Helsinger, da corretora GBM, avalia que a empresa terá maiores margens. “O segmento de abastecimento da Petrobras apresenta prejuízos desde 2010”, diz. Sem subsídios de preço e com previsibilidade nos reajustes, especialistas do setor acreditam que o País poderá atrair mais investimentos em áreas como a de refino, uma vez que a margem desses negócios tende a ficar maior. “Essa limitação ao reajuste do preço não atrai investidores para as refinarias”, diz Paulo Roberto Costa, da consultoria Costa Global e ex-diretor de abastecimento da estatal. Com a fórmula mágica, o cenário tende a ser mais promissor.
Colaborou: André Jankavski