30/03/2016 - 19:00
Quando o empresário português Alexandrino Garcia fundou a José Alves Garcia e Filhos, com uma máquina beneficiadora de arroz, na década de 1930, ele não imaginava que sua empresa estaria, hoje, envolvida em negócios tão diversos. A pequena companhia instalada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, deu origem ao Grupo Algar, com atuação nas mais variadas frentes, das safras de soja da Algar Agro aos bits, bytes e conexões da Algar Telecom, controladora da CTBC, a menor e mais antiga concessionária de telefonia do Brasil.
Sob o guarda-chuva da holding familiar, cuja sede foi construída praticamente em frente à casa de Alexandrino, estão, ainda, os complexos turísticos do Rio Quente Resorts e operações em setores como segurança patrimonial e aviação executiva. Mas é, justamente, esse enorme leque de opções que dá ao grupo a força necessária para enfrentar momentos de turbulência econômica, como o atual. “Não vamos gerar a nossa própria crise”, diz Luiz Alexandre Garcia, CEO do Grupo Algar e representante da terceira geração da família Garcia. “Estamos atentos a todas as oportunidades e riscos em cada um de nossos negócios.”
A diversificação, diz Garcia, dá resiliência ao grupo. O bom desempenho em alguns setores ajuda a compensar a queda em negócios como a aviação executiva. A demanda por serviços de internet sustentou o crescimento de 5,4% do mercado brasileiro de tecnologia em 2015, segundo a consultoria IDC, e turbinou os resultados da Algar Telecom. Já a alta do dólar impulsionou as exportações e os indicadores da Algar Agro, que produz, processa e comercializa grãos de soja e milho, mesmo diante da queda no preço das commodities. A valorização da moeda americana aqueceu o turismo interno e favoreceu o Rio Quente Resorts. Como resultado, o Grupo Algar apurou uma receita líquida de R$ 4,82 bilhões em 2015, alta de 11%. O lucro líquido foi de R$ 200 milhões, um salto de 156%.
A fórmula não está restrita à diversificação. Desde 2014, a holding vem adotando iniciativas com foco em eficiência, começando pela Algar Telecom. Em 2015, a abordagem foi estendida às outras empresas do grupo. Um dos esforços foi a centralização das compras de todas as operações. A estratégia foi usada, por exemplo, na aquisição de produtos de informática e reduziu em 20% os custos da área em 2015. Como reflexo dessas medidas, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) avançou 55%, para R$ 827 milhões.
Os investimentos mais criteriosos são outra ponta. “Passamos a priorizar os projetos que geram caixa em curto prazo”, diz Garcia. Ele cita a modernização da rede da Algar Telecom, que atua em mercados como Minas Gerais e São Paulo. “A empresa soube se renovar e vem reportando bons indicadores”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. O atendimento a empresas será um dos nortes em 2016. A compra da operadora Optitel, em novembro, por R$ 56 milhões, é um dos pilares nessa via. O acordo trouxe 237 novas cidades nos três estados da região Sul ao mapa da Algar.
Em 2016, o plano é manter os investimentos na faixa de R$ 688 milhões. Tecnologia, telecomunicações e agronegócios irão atrair boa parte dessa cifra. E o mercado de capitais seguirá sendo uma das fontes de financiamento. Em 2015, por exemplo, o grupo captou R$ 230 milhões em debêntures. Na Algar Agro, o foco é ampliar o volume das exportações, de 1,03 milhão de toneladas, em 2015. “A meta é embarcar 22 navios, contra 15 no ano passado”, diz Garcia. Sob a gestão de Murilo Braz Sant’Anna, ex-vice-presidente da Bunge, há pouco mais de um ano, a empresa ganhou fôlego com um pacote recente de ações. Para minimizar os riscos associados aos gargalos logísticos, a companhia ampliou o número de portos para escoamento da produção, antes restrito ao Porto de São Luís (MA), para os portos de Santos, Vitória e de Tubarão. A estreia na exportação de milho, em junho, foi outro passo dado.
Os aportes alcançam outros braços do grupo, como o Rio Quente Resorts, que tem sete hotéis em operação. O destaque é a ampliação do Cristal Resort, que passará de 196 para 284 apartamentos. “Não imaginávamos o cenário atual quando começamos essa transformação”, diz Garcia. “Mas ela nos deu força para superar esse momento de volatilidade.”