Competir é um dos traços marcantes da sociedade brasileira. A ponto de o segundo colocado em uma competição ser considerado o primeiro perdedor – a quem interessa que seu clube do coração tenha se sagrado vice do Brasileirão? No setor automobilístico, no entanto, as coisas funcionam de forma diferente. Há 15 anos a americana Ford defende com unhas e dentes o posto de quarta colocada no ranking, atrás de Fiat, Volkswagen e General Motors, com 10% de participação de mercado. Apesar de ser uma posição que nem ao menos dá direito a subir no pódio, as concorrentes na parte de baixo da tabela estão ávidas para roubá-la. 

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Defesa Global: Oliveira e o novo EcoSport, com o qual pretende defender

seu mercado dos ataques.

 

Para defender sua trincheira, a Ford anunciou, no ano passado, um programa de investimentos de R$ 4,5 bilhões para o período 2011-2015. Uma de suas principais armas é o novo EcoSport, um projeto mundial desenvolvido pela subsidiária brasileira. Para lançar o veículo, a montadora está subvertendo a lógica de divulgação do ramo automotivo. Em vez de manter segredo, ela vem, desde janeiro, mostrando partes do veículo a contagotas. Na segunda-feira 23, a empresa reuniu um grupo de jornalistas em Camaçari, município que abriga o principal polo da Bahia, para apresentar o visual interno e alguns itens que equiparão o carro. Em janeiro, um modelo em escala natural, revelando as linhas do novo EcoSport, havia sido apresentado em Brasília. 

 

“O EcoSport é agora um modelo global e por isso sua dinâmica de lançamento será diferente da que se praticava no Brasil”, diz Marcos de Oliveira, presidente da Ford Brasil e Mercosul. Há quem diga, no entanto, que o único objetivo dessa estratégia seria o de inibir o avanço dos concorrentes. Desde seu lançamento, em 2002, o EcoSport é o campeão na categoria esportivo utilitário, mais conhecido pela sigla SUV.Perdeu a liderança apenas em novembro e dezembro de 2011, para o recém-lançado Duster, da francesa Renault. “Eles estão tentando concorrer com o Duster mesmo com o carro ainda fora do mercado”, diz Luiz Carlos Mello, presidente do Centro de Estudos Automotivos e que comandou a Ford entre 1987 e 1992. 

 

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Sozinho, o EcoSport responde por 10% do volume total de vendas da Ford no Brasil. A tática, porém, não parece fazer muito efeito. A diferença nas vendas mensais entre o carro da Ford e o Duster, que já foi de 509 unidades, caiu para 88 unidades em março. Até a chegada do novo EcoSport, que deverá ocorrer no segundo semestre, a disputa deverá ficar ainda mais acirrada. Mas nada que tire o brilho da subsidiária aos olhos da matriz. Tanto que executivos que dão expediente na sede da Ford não economizam elogios ao modelo. “Percebemos que ele poderia atender aos anseios de consumidores de muitos outros países”, afirmou à DINHEIRO Elena Ford, tetraneta do fundador Henry Ford e atual diretora de marketing global da companhia. 

 

Além do Brasil, o carro será fabricado na China, na Índia e na Tailândia. Mas não é somente com o Duster que a Renault está incomodando a Ford. Desde 2007, os franceses reduziram em quatro pontos percentuais a diferença de participação de mercado em relação aos americanos. Outra ameaça real vem de montadoras como a Toyota, a Hyundai e a Nissan. Elas passarão a produzir localmente veículos populares, categoria responsável por 55% do total de vendas por aqui. Para se defender, a Ford aposta na renovação dos demais integrantes de seu portfólio. “Até 2015 toda nossa linha será composto por veículos globais”, diz Oliveira. 

 

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