09/05/2014 - 20:00
A ficção “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, escrita pelo britânico Roald Dahl em 1964, que inspirou a produção de dois filmes, baseou-se nas dificuldades na administração de seu negócio. Embora criativo na fabricação de guloseimas, como sorvetes que nunca derretem e ovos que se transformam em pássaros de chocolate, Willy Wonka passou a sofrer com imitações de sua concorrência. Por conta disso, o administrador decidiu fechar sua fábrica e encerrar a produção, que voltaria anos depois sob o comando de seus “Oompa-Loompas”. A história infantil reflete, em parte, o que ocorreu no mercado brasileiro de tintas, o quinto maior do mundo, com vendas de R$ 9,6 bilhões em 2013.
As principais marcas do setor trocaram acusações de plágio de fórmulas durante o ano todo. A briga foi parar na Justiça. Para proteger seu patrimônio intelectual, a Suvinil, líder do setor, marca da alemã Basf, está criando uma série de mecanismos para impedir que suas inovações sejam copiadas. Entre eles estão a criação de produtos exclusivos e o registro de patentes, alternativas ainda pouco utilizadas nesse mercado. “Contratamos um especialista para nos ajudar no processo de patentes, uma questão ainda nova e complexa no País”, diz Antônio Carlos Lacerda, vice-presidente de tintas imobiliárias da Basf.
Essa ofensiva contra possíveis plagiadores tem como pano de fundo as mudanças pelas quais tem passado o mercado de tintas nos últimos anos. “A tinta passou de produto de construção para acessório de decoração”, diz Lacerda. Essa nova realidade levou a Suvinil a investir em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Desde 2000, a empresa gasta anualmente cerca de R$ 180 milhões para criar cores, texturas e tintas especiais que não têm cheiro e são antibacterianas e à prova de sujeira. A estratégia já deu resultado. Atualmente, quase três quartos do seu faturamento, estimado pelo mercado em R$ 1,5 bilhão, provêm de produtos lançados há menos de cinco anos.
Apostar na inovação foi a maneira que a marca encontrou para crescer em um mercado que vinha apresentando um baixo desempenho. De acordo com dados da Abrafati, entidade que representa as empresas do setor, no segmento de tintas imobiliárias o faturamento caiu 1,9%, para R$ 5,9 bilhões, no ano passado, apesar de um crescimento de 1,9% no volume vendido. “Por ser muito dependente de matéria-prima importada, o mercado foi afetado pelo dólar”, afirma Dilson Ferreira, presidente da Abrafati. “Este ano o cenário deve melhorar graças ao crescimento de setores como o de construção civil.” Para colher os frutos da estratégia de inovação, a Suvinil apostou no longo prazo.
Apesar de começar a investir em pesquisa e desenvolvimento no início dos anos 2000, os primeiros resultados significativos vieram em 2008. Naquele ano, foi lançada a primeira tinta sem cheiro do mercado. “Foi uma revolução no setor”, diz Lacerda. “Agora, ninguém mais quer comprar tintas com odores.” Pesquisas quantitativas e qualitativas motivaram a criação de novos produtos que vão desde tinta antibacteriana e esmalte para pintar azulejos até aplicativos para smartphones, que possibilitam descobrir quaisquer cores de objetos. “De mais de 300 ideias que temos de novos produtos, lançamos por volta de quatro por ano”, diz Mario Lavacca, gerente de inovação e projetos da marca.
Nos planos da Suvinil, estão previstos lançamentos anuais pelos próximos cinco anos. Até o momento, no entanto, nenhuma patente foi registrada. Além da inovação, a Suvinil, que detém 40% de participação no mercado brasileiro de tintas, investe pesado em ações de marketing. Cerca de R$ 170 milhões são destinados às propagandas, como a estrelada pelo cantor sertanejo Luan Santana, no ano passado. Apesar de ter uma condição muito confortável no País, a marca não deve se expandir para o Exterior. “Estamos crescendo acima do setor e pretendemos continuar assim”, afirma Lacerda, sem revelar números. “Não temos a intenção nem de exportar produtos, queremos mesmo é fincar a nossa bandeira no País.”