30/09/2016 - 20:00
A atriz americana Jessica Alba está acostumada a enfrentar vilões nas telas do cinema, como quando interpretou a heroína Susan Storm em O Quarteto Fantástico. Na vida real, sua luta era contra a indústria de bens de consumo. Alba sabia que, mesmo possuindo uma fortuna avaliada em US$ 340 milhões, seria difícil escapar de alimentos e produtos de limpeza com componentes químicos que poderiam afetar a saúde de suas duas filhas. De olho nessa oportunidade e no nicho de produtos ecologicamente corretos, a atriz, juntamente com os sócios Brian Lee e Christopher Gavigan, criou a The Honest Company.
A companhia vende pela internet mais de 100 tipos de produtos como fraldas, xampus e sabão para lavar roupas e tem faturamento estimado em US$ 300 milhões. Seu diferencial é produzir com métodos e fórmulas que não agridem a natureza. Não por acaso, passou a chamar a atenção de gigantes sedentos pela sua pegada sustentável, como a Unilever, que estaria prestes a pagar US$ 1 bilhão pelo controle da The Honest. Segundo analistas ouvidos pela DINHEIRO, o timing da Unilever está correto. Para a empresa, agregar uma marca eco-friendly em seu portfólio atrairia bons olhares dos consumidores.
Já para a Honest, o negócio traria tranquilidade. Isso porque a companhia não passa por um bom momento em virtude de alguns deslizes no campo, justamente, da honestidade. Em março, foi encontrado o elemento lauriléter sulfato de sódio em um dos detergentes da empresa, algo também utilizado por multinacionais. O detalhe é que a própria Honest alegava que tal ingrediente deveria ser evitado. Problema similar ocorreu com a fórmula de seu leite para bebês, em que foi detectado um ingrediente artificial. A Honest negou as acusações, mas a notícia pegou mal.
Em 2015, a empresa de Alba foi avaliada em US$ 1,7 bilhão. Por isso, a aposta consideravelmente menor da Unilever faz sentido. “A Honest passou a receber vários processos de clientes e a Unilever pode auxiliar nesses casos por conta de sua estrutura”, diz o americano Alan Rownan, analista da consultoria Euromonitor. A busca de multinacionais por empresas mais engajadas não é novidade, mas se intensificou nos últimos anos.
No Brasil, as duas maiores companhias de bebidas adquiriram concorrentes que têm como mote a saúde. Em abril, a Ambev comprou a Do Bem, de sucos orgânicos. Já a Femsa, engarrafadora da Coca-Cola no Brasil, vem expandindo os negócios da marca Leão, de chás e cafés. “A tentativa de fazer produtos menos ofensivos é uma tendência irreversível das corporações”, diz Eduardo Tomiya, diretor-geral da Kantar Vermeer. Mas não basta só parecer saudável. É preciso ser honesto.