Em meio a um cenário repleto de turbulências, sejam elas no céu, onde a Latam Airlines é referência mundial, sejam elas em terra firme, diante dos desdobramentos da pandemia e da guerra na Ucrânia, o executivo Jerome Cadier tem vivido momentos de suspense e de emoção à frente da operação Brasil da holding chilena. Principalmente nos últimos dois anos e meio. O CEO acompanhou a distância, via tribunais nos Estados Unidos, a saída do grupo do Chapter 11 (Capítulo 11, equivalente americano à recuperação judicial brasileira), definida em novembro, ao mesmo tempo em que acompanhou in loco o reaquecimento gradual dos mercados nacional e internacional de aviação. “Quando olho para a Latam fico muito orgulhoso do que construímos durante esse período.”

Conduzir a empresa nesse intervalo fez o executivo ser escolhido pela DINHEIRO Empreendedor 2022 em Aviação. Desde o começo da crise sanitária, há quase três anos, as dívidas acumuladas do grupo chegaram a US$ 18 bilhões, montante reduzido a US$ 6,9 bilhões na atualidade. “Foi um período longo, duro, mas temos agora uma companhia bem diferente”, disse. “Ela é menos endividada, mais competitiva, mais flexível, mais rápida e mais eficiente.”

A Latam, na visão de Cadier, está “bem melhor do que quando entrou” na recuperação judicial. “Cada companhia definiu como lidaria com a pandemia. A nossa forma de atuar trouxe coisas positivas no final. E a transformação que fizemos só foi possível graças ao Chapter 11”, afirmou o executivo. O prejuízo global das aéreas chegou a US$ 137,7 bilhões em 2020. “Não sei se [as empresas] têm uma história muito boa para contar, porque a maioria sai da pandemia mais endividada, com custo mais alto e menos caixa.”

Com 54 destinos domésticos, dez a mais do que na era pré-pandêmica, a Latam lidera o mercado nacional há praticamente um ano e meio. Repete o que ocorre no cenário internacional, no qual tem amplo domínio entre as empresas do País. “A Latam era, é e continuará sendo a companhia aérea nacional que conecta o brasileiro ao mundo”, disse o CEO A empresa recuperou até agora 80% das rotas para o exterior. “Voltaremos aos patamares de 2019 durante 2023.”

A expectativa agora é ter uma nova temporada com “alguma tranquilidade” em relação a preços de tarifas, que subiram embaladas pelo aumento do custo do petróleo no mercado internacional, o que consequentemente provocou o incremento do valor do combustível de aviação, responsável por 40% dos custos das aéreas. “Não teve jeito. Tivemos de repassar isso para a tarifa.” A expectativa para 2023 é que ocorra gradualmente uma redução do preço do combustível. “Assim, poderemos oferecer passagens a preços mais competitivos e, com isso, ter mais crescimento.”

Para Cadier, o crescimento do setor no País está diretamente relacionado ao desejo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de democratizar a aviação. “A operação aérea no Brasil é extremamente cara. Pagamos um dos combustíveis mais caros do mundo e precisamos de concorrência no setor.” O alto índice de judicialização também se torna importante adversidade. “Essa é uma guerra mais longa, uma guerra mais difícil, porque depende de todos os juízes do Brasil terem o entendimento de que dano moral não se aplica a um passageiro que teve seu voo atrasado ou cancelado.”

A remoção de barreiras possibilitaria o crescimento da aviação com a disponibilização de passagem mais acessível, além de um custo mais baixo de operação. Mesmo assim, o cenário nacional já parece mais promissor. “Acho que o momento é para termos uma agenda de crescimento forte”, disse. “E não é crescer 5%. É crescer 30%, 40% em um ano. É isso o que temos que almejar.”