A Conferência do Clima da ONU, a chamada COP21, começou na última segunda-feira 30, em Paris, como a maior de todas as iniciativas globais já realizadas para desacelerar o processo de aquecimento do planeta, causado pela emissão desenfreada de gases poluentes e, principalmente, dióxido de carbono, o CO2. Após cinco dias de debates, na metade dos dez dias de encontro, no entanto, o que se observou foram discursos sem fundamento, promessas vazias e intenções que dificilmente poderão ser cumpridas.

“Em nenhum ponto nós estamos fazendo os progressos necessários”, disse à DINHEIRO o americano Daniel Reifsnyder, um dos líderes da delegação americana. “A frustração está aumentando a cada dia e parece que cada um fala uma língua diferente”. A decepção atende, em especial, pelo nome de China. A segunda maior economia mundial e principal responsável pela poluição do planeta prometeu ampliar a criação de parques eólicos para reduzir a participação do carvão em sua matriz energética – que atualmente é de 70% –, mas reconheceu que será impossível diminuir a quantidade de CO2 que lança na atmosfera antes de 2030.

“Não vamos mentir. Antes de melhorar, a situação da China vai piorar”, afirmou a porta-voz do governo chinês para assuntos climáticos, Xie Zhenhua. A afirmação caiu como uma bomba na COP21. Pelos cálculos do instituto americano Breathing Earth, em 12 meses a China emite gases de efeito estufa o que o Brasil demora 16 anos para emitir. “Sem o comprometimento das grandes economias, esse encontro não conseguirá escrever um novo futuro para a humanidade”, disse Laurent Fabius, ministro francês de Relações Exteriores e presidente da COP21. “É verdade que nem tudo se resolverá em Paris, mas sem Paris não se conseguirá nada.”

A busca por um acordo climático de alcance global esbarra na falta de consenso para a criação de mecanismos de punição para as economias que não atingirem as metas. Espera-se que a COP21 termine no dia 11 de dezembro com, ao menos, um acordo que seja “legalmente vinculante”, o que significa ter força de lei e ser aprovado pelos órgãos legislativos de cada país. O impasse está na equação dos países em desenvolvimento, que reivindicam que a redução de emissões seja atrelada a uma compensação financeira para que ela não signifique uma amarra a seu desenvolvimento.

A proposta de solidariedade aos países mais frágeis e em desenvolvimento também é uma bandeira defendida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “As mudanças climáticas devem ser combatidas por todos, mas a imposição de metas a países menos industrializados pode criar um colapso econômico e empurrar muitos países à pobreza extrema.” O equilíbrio entre crescimento econômico e redução das emissões de gases é, indiscutivelmente, o maior desafio da COP21.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o inevitável – e aguardado – aumento da temperatura do planeta em até 2°C até 2100 terá graves consequências, como o aumento da frequência de eventos extremos climáticos. Os mais pessimistas preveem uma alta de até 4°C nos termômetros no mesmo período. A intensidade dos furacões aumentaria, por exemplo, a oferta de água doce diminuiria e várias espécies seriam extintas. A criação de regras distintas, porém, tem sido rejeitada pelas Europa.

As empresas do Velho Continente exigem que o acordo a ser definido imponha regras idênticas para todo o mundo, considerando que estão ameaçadas pelos concorrentes em países com menos exigências ambientais. “Concorrentes globais não podem jogar com regras diferentes”, afirmou a presidente da Federação Internacional de Consumidores de Energia Industrial da Europa, Annette Loske. “O que está em jogo não é o lucro maior ou menor, mas a garantia de um futuro melhor para o planeta.”