Nos últimos três anos, enquanto o mercado internacional ainda sofria os efeitos da recessão ou do crescimento baixo nos países desenvolvidos, a confecção Dudalina, conhecida pela variedade de camisas, dobrou o número de funcionários. Já são 2,3 mil, distribuídos em seis unidades nos Estados de Santa Catarina e Paraná. Agora, a empresa – que cresceu focando no mercado doméstico – está contratando mais colaboradores. Tudo para sustentar uma expansão de 25%, esperada para este ano. “Precisamos de mais gente em todas as nossas fábricas e também nas lojas”, afirma Sônia Hess, presidente da Dudalina. Ela não cogita levar sua produção para fora do País, como fizeram outras empresas do setor, o que ajuda a manter o mercado de trabalho aquecido por aqui. 

 

127.jpg

Construção civil: 11,2 mil vagas abertas, com alta de 5,3% em 12 meses 

 

O ritmo de criação de novas vagas, que parecia ter perdido o fôlego em junho e julho, voltou a acelerar. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, mostra a abertura de 127,6 mil postos com carteira assinada em agosto. Um número 26% superior ao do mesmo mês do ano passado e quase o dobro do esperado pelos analistas. Quem mais contratou foi o setor de serviços, com a abertura de 64,2 mil vagas, seguido do comércio, com 50 mil postos, e da indústria, com 11,3 mil. Na construção civil, foram mais 11,2 mil vagas, numa alta de 5,3% em 12 meses. A retomada do emprego foi confirmada pela pesquisa do IBGE, divulgada na quinta-feira 26. 

 

O índice de desemprego caiu para 5,3% em agosto, menor do que em julho e semelhante ao de agosto do ano passado (veja gráfico ao final da reportagem), quando foi registrado o menor índice para o mês desde o início da série histórica, em 2002. Para o economista Fábio Romão, da consultoria LCA Associados, os números de agosto refletem, em parte, a postergação de contratações que deixaram de ser feitas em julho, por conta dos protestos do mês anterior e do clima de incerteza que eles criaram. Mas também mostram uma melhora efetiva da economia, com o aumento das vendas de eletroeletrônicos, estimuladas pelo programa Minha Casa Melhor, que oferece condições de financiamento subsidiadas na compra de eletrodomésticos e eletroportáteis. 

 

128.jpg

Sônia, da Dudalina: aberta a temporada de contra-tações

 

Houve, ainda, uma melhora da renda disponível para o consumo, com a desaceleração do índice de inflação depois do pico de junho. Com perspectivas melhores para os próximos meses, as empresas voltaram a contratar. “O mercado de trabalho desacelerou na primeira metade de 2013, mas agora volta a crescer, embora num ritmo mais modesto”, afirma Romão. O mercado mais favorável ao trabalhador estimula o aumento dos salários. O rendimento médio real, que cresceu 4,1% no ano passado e elevou os custos das empresas, também passou por um ajuste. Neste ano, o ganho real deve ficar em torno de 1,5%. 

 

Trata-se de um ganho suficiente para fomentar o consumo, sem pressionar demais o custo de vida. “Esse aumento menor sugere que a inflação de serviços, vilã absoluta do IPCA, pode apresentar comportamento mais benigno nos próximos meses”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. De olho no poder de compra dos trabalhadores, as empresas de varejo já começam a revisar para cima suas expectativas. A Confederação Nacional do Comércio (CNC), que esperava um crescimento de 4% no faturamento deste ano, agora projeta uma alta mais próxima de 4,5%. “Houve uma melhora em relação ao primeiro semestre”, diz Carlos Thadeu de Freitas, chefe da divisão de economia da entidade. 

 

Pesquisa da CNC divulgada na semana passada mostra que o número de consumidores com dívidas caiu de 63,1%, em agosto, para 61,4%% em setembro, enquanto a parcela dos que têm dívidas em atraso caiu de 21,8% para 20,6%. Com mais clientes na praça, os lojistas se preparam para aumentar em 20% suas equipes, com empregos temporários para o fim de ano. Na indústria, as contratações ocorrem em ritmo menos acelerado, porque o setor ainda mantinha uma gordura. Apesar da produção mais fraca nos últimos dois anos, as empresas preferiram reter funcionários no período. Ainda assim, com uma leve melhora do faturamento, o número de empregos industriais registrou alta de 0,5% nos primeiros sete meses deste ano. A dificuldade para a indústria, atualmente, é encontrar mão de obra qualificada. Mas isso já é outro capítulo.

 

129.jpg

 

 

Colaborou: Cristiano Zaia