A História Econômica do Brasil mostra que as crises normalmente são passageiras, derrubam o Produto Interno Bruto (PIB) durante um ano e, em seguida, há uma recuperação. Nesses momentos de recessão, muitas empresas morrem, outras se reestruturam e algumas até crescem. O caso mais recente é o de 2009, quando o PIB encolheu 0,2% e a produção industrial despencou 10,5%. Para os setores automotivos e de linha branca, no entanto, houve crescimento nas vendas, graças ao programa de estímulo ao consumo do governo Lula. Na crise atual, o quadro é bem diferente e dificilmente poupará algum setor.

Além da forte recessão em 2015, está crescendo o risco de um novo tombo no ano que vem. Somadas, as quedas previstas para o PIB chegam a 6,8%, segundo o Bank of America Merrill Lynch. Será o pior biênio desde 1901, quando começou a série do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Neste cenário, até setores que vinham brilhando, como o de cosméticos e de carros usados, já dão sinais de fadiga.

“Em 2015, nós ainda crescemos 7%, mas, agora, estamos lutando para fechar o ano no zero a zero”, diz Ilídio dos Santos, presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). “A incerteza é enorme. Não sabemos o que vai acontecer no dia de amanhã.” Em outubro, as vendas de carros usados despencaram 9,3% em relação a setembro e 13% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Já o setor de cosméticos, que vinha crescendo há 23 anos consecutivos, corre o risco de fechar o ano no vermelho.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), as vendas caíram 1% no primeiro semestre. Para os especialistas, há uma série de fatores que explicam a postergação da recuperação econômica. O principal deles é a crise política, que inviabiliza a aprovação do ajuste fiscal. Desde o início do ano, há uma guerra entre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), e a presidente Dilma Rousseff, que apoiou o deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP) na disputa com Cunha à presidência da Casa.

Acuado com a abertura de processo de cassação do seu mandato no Conselho de Ética, por supostamente esconder contas bancárias na Suíça, Cunha ameaça aceitar o pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma, por conta das pedaladas fiscais. Na quinta-feira 5, o deputado Fausto Pinato (PRB/SP) foi confirmado relator do processo no Conselho de Ética. “O senhor Eduardo Cunha vai ser julgado como um deputado comum, não como presidente da Câmara”, afirmou Pinato. “Vamos estar estudando, mas diante do que estamos sabendo pela imprensa, existe uma grande possibilidade de eu aceitar a denúncia.”

Além da disputa política, a alta dos juros promovida pelo Banco Central, a queda da confiança empresarial, a elevação do desemprego, o encolhimento na renda das famílias, a disparada da inflação e o impacto da operação Lava Jato nos investimentos dificultam o início da recuperação. “Não seria correto incluir o ajuste fiscal nesta lista de culpados pela queda do PIB, pois o rombo das contas públicas continua crescendo”, afirma Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. “Infelizmente ainda não chegamos ao fundo do poço e prevejo quedas trimestrais do PIB até meados de 2016.” Sem nenhuma perspectiva de reação das lideranças em Brasília, o furacão político, que já dragou a economia em 2015, avança perigosamente rumo a 2016.