A indústria petroquímica está correndo contra o tempo. A contagem regressiva está ligada a um fator invisível aos olhos dos consumidores, mas extremamente crucial para as linhas de produção: a falta de nafta, a matéria-prima básica utilizada para a fabricação de uma extensa cadeia de produtos, que vai dos plásticos aos remédios. Esse problema acontece pelo fim do contrato de fornecimento do insumo pela Petrobras, que expira no sábado, 31 de outubro. Se tiverem de trabalhar com seus estoques, as indústrias têm cerca de 10 dias, calculam especialistas.

“Sem fornecimento, a indústria petroquímica vai parar gradativamente”, diz Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). “É ininteligível o que a Petrobras vem provocando no setor.” O impasse sobre o fornecimento da nafta teve início há dois anos, quando Petrobras e Braskem, a maior compradora do insumo, começaram a negociar a extensão do acordo. No centro do problema estava a gasolina. Desde 2009, quando a política do governo passou a represar o preço do combustível para segurar a inflação, a Petrobras decidiu importar a nafta (mais barata) ao invés da gasolina (mais cara).

Para atender aos interesses de sua controladora, a estatal quis repassar para as petroquímicas a conta da importação. Ou seja, a nafta pagaria o subsídio à gasolina, o que, na ponta do lápis, já estava acontecendo. A importação da nafta acarretou um custo 7% maior, num mercado de quase R$ 20 bilhões. “A fatia da nafta é um terço do mercado da gasolina, não é desprezível”, diz João Luiz Zuñeda, da consultoria MaxiQuim. “Ele impacta cadeias importantes, como o setor automotivo, que é o maior consumidor de gasolina.”

Embora o preço seja um fator importante, a Petrobras tem interesse em modificar um acordo selado nos anos 1990, que a obriga a fornecer 70% da nafta para as petroquímicas. Até 2009, essa relação entre o insumo nacional e o importado era mantida. Agora, quase 60% da nafta vêm do exterior (incluindo a parcela importada pela estatal). A Petrobras, que teria capacidade, em suas refinarias, para atender o mercado nacional de nafta, quer se libertar desse acordo. Para as petroquímicas, a importação tira competitividade e inviabiliza projetos.

Os impactos no setor já começaram. Sem garantias de fornecimento, a polonesa Synthos e a alemã Styrolution cancelaram investimentos de quase R$ 1 bilhão em novas fábricas no Brasil. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, está empenhado em encontrar uma solução. Nesta terça-feira, Braga e o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, têm um encontro. Na última sexta, havia a expectativa de que a estatal e a Braskem, maior consumidora de nafta, acertariam a prorrogação do contrato de fornecimento por mais 45 dias. Com isso, a negociação ganharia um novo fôlego. Mas que o acordo de longo prazo da nafta seja assinado antes de 15 de dezembro.