26/02/2016 - 20:00
Todos os anos, os milhares de investidores da Berkshire Hathaway, empresa do bilionário Warren Buffett, se perguntam o que vai ser da companhia – e do dinheiro que eles investiram nela – se Buffett, 85 anos completados em agosto, desaparecer sem aviso prévio. Essa pergunta foi formulada pelos investidores, funcionários e executivos do BTG Pactual no dia 25 de novembro do ano passado. A quarta-feira, que parecia ser mais um dia de trabalho, começou com a notícia da prisão do banqueiro André Esteves pela Polícia Federal, citado pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) em um pretenso plano para libertar e tirar do Brasil Nestor Cerveró, condenado na Lava Jato.
Nada ficou provado, e Esteves ficou cerca de três semanas preso. Nesse período, o BTG chegou a perder metade do seu valor de mercado, que encolheu de R$ 30 bilhões para cerca de R$ 14 bilhões. Os investidores se perguntavam se o banco poderia sobreviver à enorme crise de imagem. Quando saiu da cadeia, oficialmente afastado do controle, Esteves encontrou um banco radicalmente diferente do que havia fundado. Ele foi substituído pelo economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central, com bom trânsito tanto em Brasília quanto junto ao empresariado.
Arida promoveu um encolhimento radical da instituição financeira. Em pouco menos de três meses, o BTG levantou R$ 11,9 bilhões por meio da venda de empresas e participações acionárias e carteiras de crédito. A transação mais recente foi fechada na Suíça. Em setembro do ano passado, dois meses antes da crise, o BTG havia anunciado a compra do banco suíço BSI por 1,25 bilhão de francos suíços (R$ 5 bilhões). Na segunda-feira 22, o banco foi revendido por 1,5 bilhão de francos suíços (R$ 5,9 bilhões), parte em dinheiro, parte em participação acionária, ao conterrâneo EFG.
“O fato de o banco ter conseguido vender por um preço superior ao da compra é uma surpresa positiva”, escreveu Tito Labarta, analista do Deutsche Bank, que recomenda manter as ações do banco. A estratégia do BTG é continuar crescendo na Suíça. “Manteremos de 20% a 30% da instituição combinada”, diz Pedro Lima, principal executivo de relações com investidores. Lima afirma que a transação segue a estratégia de expansão internacional nos mercados de gestão de recursos e de fortunas. “Ela nos permite participar de um processo de consolidação do mercado bancário suíço, que deverá ocorrer”, diz. O BSI foi o maior negócio até agora, respondendo por metade do capital levantado.
Outras transações importantes foram a venda de uma participação de 16% na rede hospitalar D’Or, por R$ 2,4 bilhões, para o GIC, fundo soberano de Cingapura. O BTG também seguiu o exemplo de empresas que precisam de dinheiro e não querem tomar empréstimos, e repassou seus recebíveis. No caso, cerca de R$ 10 bilhões em empréstimos concedidos a grandes empresas e títulos públicos em carteira. Os compradores foram Bradesco e Itaú. Pelas estimativas do mercado, as vendas renderam cerca de R$ 2 bilhões ao BTG.
Negócios menores renderam outros R$ 2 bilhões. Entre eles, o desinvestimento na empresa de participações imobiliárias BR Properties e na companhia de recuperação de crédito Recovery. Participações na espanhola ATLL, que fornece água à população de Barcelona, arredondaram a conta. Mais negócios podem sair da esfera do banco, como a operadora de estacionamentos Estapar, a maior do mercado, e a participação de 51% na Pan Seguros, seguradora que o banco possui em parceria com a Caixa Econômica Federal. Lima não comenta esses negócios futuros, mas estima-se que eles poderiam render pouco mais de R$ 2 bilhões.
Lima admite que a necessidade de o BTG reforçar o caixa justificou as vendas. “Realizamos alguns desinvestimentos de negócios que não fazem parte das atividades principais do banco, para reforçar a liquidez”, diz. Ele não comenta a estratégia futura do BTG, mas desmente os rumores de que, capitalizado, o banco pretenda recomprar os R$ 2,1 bilhões em papéis em circulação no mercado. “Isso não procede, vamos continuar listados em bolsa”, diz ele. Lima afirma que o processo de desinvestimento está quase no fim. “O pior
já passou”, diz.