Nos últimos meses, o grupo Camargo Corrêa ocupou posição de destaque nos noticiários policiais e econômicos do País. A companhia, que deve faturar R$ 24,5 bilhões neste ano, continua no centro das investigações da operação Lava Jato, sendo uma das 23 empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção em negociações com a Petrobras. Nos cadernos de economia e negócios, a empresa tem chamado a atenção por anunciar transações bilionárias, em uma frenética tentativa de reduzir um endividamento que já soma R$ 24 bilhões – boa parte das perdas causadas pela suspensão ou cancelamento de contratos com a Petrobras.

Somado a isso, o grupo firmou um acordo de leniência com a justiça e desembolsará algo como R$ 800 milhões para retomar a credibilidade no mercado. Em menos de três semanas, a Camargo Corrêa vendeu as marcas de materiais esportivos Topper e Rainha, por R$ 48,7 milhões, para o empresário Carlos Wizard, e passou para holding J&F Investimentos, da família Batista, controladora da JBS, as Alpargatas por R$ 2,67 bilhões, na segunda-feira 23. A julgar pelo alto grau de endividamento, a companhia precisará vender ainda mais.

Especula-se que as principais operações do grupo, a cimenteira InterCement, onde detém 95% do controle, possui valor de mercado estimado em R$ 8,45 bilhões; a concessionária de rodovias CCR, em que conta com uma fatia de 17%, tem um valor de mercado estimado em R$ 23,5 bilhões; e a distribuidora de energia CPFL, cuja participação da holding é de 24,4%, é avaliada em R$ 16 bilhões. Embora a empresa confirme apenas o interesse de sócios minoritários para a InterCement, o mercado aguarda algum movimento mais agressivo da Camargo Corrêa para ajudar a reduzir o passivo bilionário.

Juntas, Topper, Rainha e Havaianas renderam apenas R$ 2,71 bilhões aos cofres da empresa – algo como 10% da dívida total da holding. Por mais que a desconstrução tenha soado como um refresco de curto prazo no caixa do conglomerado, especialistas continuam receosos quanto ao futuro do grupo. Para Felipe Speranzini e Renata Lotfi, analistas da agência americana Standard & Poor’s, apesar de positiva, a transação não gerou nenhum impacto sobre o rating do grupo, que continua negativo. “Entendemos que eles tentam resolver as dívidas, mas trabalhamos com o cenário atual”, diz Renata.

Para agravar mais a situação da Camargo Corrêa, a retração econômica do País tem afetado suas principais atividades, que são regidas principalmente pela construção pesada, pelos negócios imobiliários, além da atividade de cimento e concreto, encabeçado pela InterCement, negócio de maior representatividade na receita da companhia, algo em torno de 31%. Segundo Speranzini e Renata, pelo peso nas contas do grupo, a geração de caixa da InterCement no Brasil é um dos principais focos de preocupação para os próximos anos, tendo como base o cenário macroeconômico nada promissor e a queda de 15,8% no volume de vendas da companhia no terceiro trimestre deste ano.

Como tentativa de reverter esse cenário e virar o jogo, além de esperar que as áreas de concessões e energia e transporte passem a puxar o crescimento da receita líquida, o grupo reconhece que a venda de outros ativos é o caminho. Desde o primeiro semestre deste ano a Camargo Corrêa passou a procurar sócios minoritários para sua fabricante de cimento e concreto, que conta com operações em países como Argentina, Paraguai, Portugal, Brasil e alguns da África.

Em nota enviada à DINHEIRO, a holding afirmou que avalia um sócio para a companhia, mas que o intuito é manter-se à frente do controle. Para Sergio Lazzarini, professor de estratégia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em situações de crise econômica, realocar ativos para diminuir dívidas são as estratégias mais comuns para retomar a saúde financeira. “Isso traz mais flexibilidade financeira para a empresa bancar novos investimentos e melhorar sua posição no mercado”, afirma.

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