21/06/2013 - 18:00
Na quinta-feira 20, o dólar fechou a R$ 2,258, maior cotação desde abril de 2009. A amplitude do movimento assustou os executivos financeiros. Nos 20 primeiros dias de junho, a moeda americana subiu 5,6%, após valorizar 6,5% em maio. Só para comparar, a oscilação média do dólar nos 12 meses anteriores havia sido de modestos 0,47% ao mês. Esse dólar mais nervoso veio para ficar durante um bom tempo. Segundo o economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o movimento é reflexo de um fenômeno mundial. Nas últimas semanas, o dólar se fortaleceu em relação a quase todas as demais moedas e não há razão para que o real se comporte de forma diferente.
Em momentos como o atual, quando muitos dos dólares que haviam saído em viagem carimbam o passaporte de volta para casa, isso representa solavancos que podem afetar a vida das empresas. “O empresário e o executivo financeiro voltaram a cotar as operações de proteção contra as oscilações do câmbio”, diz Norberto Zaiet Júnior, COO do banco paulista Pine. Segundo Zaiet, há um novo interesse pelo hedge. “Nos últimos tempos, as empresas, especialmente as exportadoras, procuravam proteção apenas contra oscilações no seu fluxo de caixa”, afirma Zaiet. “Agora a ordem é buscar proteção para o total das dívidas.” Esse movimento foi amplificado pela decisão do Ministério da Fazenda, anunciada no dia 13 de junho, de retirar a alíquota de 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incidia sobre as operações com derivativos cambiais.
Norberto Zaiet Jr., COO do Banco Pine: ”As empresas agora querem
proteção para as dívidas, não só para os fluxos de caixa”
Mesmo assim, a principal causa do interesse das empresas é o aumento da volatilidade do câmbio. A preocupação é justificada. Um levantamento da Economática mostra que, desde o fim do primeiro trimestre, o estoque da dívida de 113 empresas abertas que divulgam suas dívidas indexadas ao dólar avançou em mais de R$ 5 bilhões, considerando-se um dólar a R$ 2,18 – abaixo do fechamento da quinta-feira. No entanto, o impacto potencial do câmbio sobre a última linha do balanço cresceu. “Em alguns casos, um aumento exagerado do dólar que ocorrer quando a empresa estiver desprotegida pode significar a diferença entre o lucro e o prejuízo”, diz Fernando Freiberger, diretor de Corporate Banking do HSBC.
Fernando Freiberger, diretor de Corporate do HSBC: “A ordem
dos clientes é evitar ao máximo a especu-lação e não correr riscos”
“Redes de supermercado que importam diretamente os produtos que vendem estão muito sujeitas às oscilações do dólar”, diz ele. “Em alguns casos, a concessão de um empréstimo está vinculada ao fato de a empresa estar protegida.” A estratégia de proteção tem sido bastante conservadora. Nomes conhecidos como Sadia e Aracruz quebraram em 2008 devido à especulação com o câmbio. Segundo o executivo do HSBC, o instrumento mais usado é um contrato futuro de dólar negociado na bolsa, que remunera a empresa com reais no caso de alta do dólar, mas não entrega a moeda americana. Conhecido como non-deliverable forward, ou NDF, é uma proteção pouco arriscada. “A ordem s é evitar ao máximo a especulação e não correr riscos”, diz Freiberger.