A pequena cidade paulista de Iracemápolis amanheceu diferente na sexta-feira 6. Foi o primeiro dia após o lançamento da pedra fundamental da fábrica de automóveis da Mercedes-Benz. Lá, com investimentos de R$ 500 milhões, a empresa alemã produzirá milhares de unidades dos modelos Classe C e GLA . Isso acontece um mês após a demissão de 160 funcionários de sua unidade de caminhões, em São Bernardo do Campo (SP). “Temos de entender que são segmentos distintos”, diz Philipp Schiemer, CEO da empresa na América Latina.

Como o sr. vê a atual situação econômica do Brasil?
Estamos em uma fase de ajustes. Sabemos que o resultado de 2014 e de 2013 não foram bons. Alguma providência precisava ser tomada. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está começando a fazer um trabalho complicado, e estamos acompanhando as novidades.

Mesmo as mais duras, que têm afetado o setor automotivo, como o aumento do IPI?
Precisávamos delas para colocar o Brasil de volta na trilha do crescimento. Um país como o Brasil tem de crescer, no mínimo, 3% ao ano. Nos últimos quatro anos ficamos longe disso. Foi um sinal de que algo estava errado. Agora, temos de entender que esses ajustes resultarão em sacrifícios. A crise é um preço que temos de pagar para voltar a crescer.

Quando o Brasil voltará aos eixos?
Se eu tivesse uma bola de cristal, ficaria feliz.

Como o sr. analisa o desempenho da divisão de automóveis da Mercedes-Benz, nos últimos dois anos?
Tivemos um desempenho bem diferente do mercado e conseguimos crescer. Principalmente, por causa dos lançamentos de novos produtos, além do projeto da fábrica em Iracemápolis, que também ajudou a nos enquadrar no Inovar-Auto. Em 2014 crescemos 25%, o que deve se repetir em 2015.

De onde vem essa certeza?
É evidente que, para que isso ocorra, a economia precisa melhorar. Nos últimos anos, devido a uma política de trazer modelos novos somada a uma boa estratégia de vendas, melhoramos o desempenho. Apenas isso, porém, não será mais suficiente daqui para adiante.

Qual é a vantagem de fabricar automóveis no Brasil? A Mercedes já teve uma experiência frustrada com o Classe A…
O que aconteceu naquela época foi que o momento de fabricar no Brasil não era o certo. O modelo também não foi o mais adequado. Além disso, o Brasil estava enfrentando muitas dificuldades. Uma crise mundial se aproximava. Agora, fabricaremos carros que já têm ótima aceitação no mercado e terão o imposto mais reduzido.

Menos imposto significa carro mais barato?
Não. Vamos manter o preço que praticamos atualmente.

Mas o sr. acredita que seja mesmo um bom momento para investir em carros no País?
Posso responder com um exemplo: tivemos uma reunião, na semana passada, sobre os resultados da companhia e nunca se vendeu tantos automóveis da Mercedes-Benz no mundo. Foram mais de 1,6 milhão de carros. Isso aconteceu porque crescemos em todos os mercados, incluindo o Brasil. Logicamente, sempre haverá crises, mas conseguimos compensar problemas, atuando nos mais diferentes países. Hoje estamos em uma situação muito boa.

Como o sr. avalia as campanhas contra o automóvel?
Cada vez mais, governantes têm oposto o transporte coletivo ao individual. Que nós temos problemas a serem combatidos nas grandes cidades, não há dúvida. Agora, abolir o carro não é uma solução. Não existe infraestrutura urbana suficiente para fazer com que as pessoas deixem de comprar automóveis. Eu, por exemplo, adoraria ir de metrô para o trabalho, mas no Brasil ainda é muito difícil.

O anúncio da contratação de mil trabalhadores, em Iracemápolis, após demissões na fábrica de São Bernardo, criará problemas?
Temos de entender que são segmentos distintos. Mas essa nova fábrica mostra a confiança que temos no Brasil.