Poucos segmentos econômicos no Brasil cresceram tanto, nos últimos anos, quanto o de cruzeiros marítimos. De acordo com cálculos da Abremar, entidade que reúne as operadoras do setor, o número de viajantes saltou de 40 mil em 2001 para 800 mil na temporada 2011/2012. Um movimento que gerou um ingresso de R$ 1,3 bilhão na economia local, incluindo os gastos de armadores e os desembolsos feitos pelos viajantes. 

Uma das empresas que estão surfando nessa onda é a Costa Crociere, gigante italiana com sede em Gênova, que faturou € 2,9 bilhões em 2010. Controladora das bandeiras Costa, Ibero e Ainda, ela foi uma das primeiras a enxergar o potencial da costa brasileira, onde aportou na década de 1950, com as embarcações da família Eugenio Costa. Agora, a companhia se prepara para dar um grande salto no mercado nacional,  que responde por 8% de suas receitas, ou € 232 milhões. 

 

6.jpg

 

Das 17 embarcações que participarão da temporada 2011/2012 no País, nada menos que nove são da companhia. “O Brasil é uma aposta de longo prazo para a companhia”, disse à DINHEIRO Gianni Onorato, presidente da Costa Crociere. Mais que apenas operar por aqui, o executivo espera tirar partido do grande interesse dos brasileiros por viagens marítimas, incluindo o País nas demais rotas da companhia. Essa estratégia começa em grande estilo. Em maio, o Costa Victoria zarpa do porto de Santos com destino a Xangai. Será o único navio de turismo a ligar a América do Sul à China. 

 

O percurso será cumprido em 72 dias e pode ser dividido em quatro blocos distintos. Iniciativas como esta mostram não apenas o prestígio do Brasil, mas também sua importância na estratégia global de crescimento da Costa Crociere. Até porque a companhia manteve o plano de investimento no valor de € 2,9 bilhões,  iniciado em 2009, destinado a ampliar a frota para 25 embarcações, sendo 17 com a grife Costa. Três transatlânticos já foram entregues e a meta é lançar mais dois: o Costa Favolosa e o Costa Fascinosa, até o final de 2012. 

 

7.jpg

“O Brasil é uma aposta de longo prazo da companhia” Gianni Onorato, presidente da Costa Crociere

 

Apesar de ter navegado em águas relativamente tranquilas,  em meio à recessão que atinge a Europa – a empresa cresceu 12,1% em 2010 em relação a 2009 –, Onorato se mostra comedido em relação ao futuro. Até mesmo no que se refere ao Brasil. “O excesso de taxas, a burocracia e a infraestrutura deficiente podem travar o crescimento do setor de turismo marítimo”, diz. Segundo ele, os custos associados ao negócio estão se tornando proibitivos no País. 

 

Um exemplo é o valor cobrado para atracar ou sair dos portos brasileiros, que custa, em média, US$ 19 mil por manobra, enquanto em Atenas,na Grécia,  fica em US$ 2,3 mil e em Tenerife, na Espanha, US$ 1,4 mil, de acordo com a Abremar. Para Ricardo Amaral, presidente da Abremar, é necessária uma política de incentivos ao setor que vá muito além do valor das tarifas. Ele afirma que é preciso incluir neste debate as precárias condições de alguns portos. 

 

Desde o acesso até as instalações. “Corremos o risco de um apagão portuário”, afirma Amaral. Isso, segundo o dirigente, poderia por a pique o esforço das empresas de cruzeiro de desenvolver esse mercado. Pelas contas da entidade, existe demanda para triplicar o número de viajantes, apenas focando nas classes A e B, compostas por 20 milhões de pessoas. Onorato, da Costa Crociere, concorda. “O Brasil está repetindo os equívocos de outros destinos, como o Alasca, que criou tantas taxas que as companhias de cruzeiro desistiram de operar lá”, diz.

 

8.jpg