Nos últimos meses, uma série de indicadores vem registrando uma boa recuperação da confiança de consumidores e empresários. Embora os patamares ainda estejam abaixo da média histórica, a curva ascendente é promissora e prenuncia uma recuperação da economia em 2017, que pode avançar até 2%. É importante notar que a expectativa futura é maior do que a satisfação presente. Significa algo como “está ruim, mas vai ficar bom”, sensação que pode ser traduzida pela valorização superior a 30% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desde o início do ano. Mas, pensando bem, o que justifica essa aparente euforia?

Numa análise bem realista, quase nada de concreto aconteceu na economia até agora. É a mudança na política, portanto, que justifica a melhora no humor dos brasileiros. Trata-se, em última análise, de um voto de confiança no governo. Não se trata aqui de avaliar se Michel Temer é um político melhor do que Dilma Rousseff ou se o PT é pior do que o PMDB. O ponto central e inequívoco é que a presidente afastada destruiu a economia e dinamitou as pontes entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. No primeiro caso, o efeito direto foi a perda da popularidade. No segundo, a incapacidade de governar.

Concretizado o cenário de impeachment, no fim de agosto ou no início de setembro, haverá a certeza de que o modelo fracassado dos últimos cinco anos não retornará. Sendo assim, a crise de confiança que provocou o maior tombo econômico da história – cerca de 7% entre 2015 e 2016 – passa a dar lugar a um choque de expectativas.

Um exemplo concreto da mudança de humor empresarial pode ser colhido em uma pesquisa feita pela KPMG com 50 executivos de grandes empresas no Brasil. Quase 60% acreditam que o crescimento econômico acontecerá rapidamente e, portanto, já planejam novos negócios. Há muitos projetos engavetados à espera de sinal positivo. Recentemente, em entrevista à DINHEIRO, o empresário Ricardo Roldão, sócio e CEO de uma rede atacadista que deve faturar R$ 3 bilhões neste ano, mandou um recado a seus pares: “Quem demorar muito esperando a crise passar vai perder boas oportunidades.”

Nesse contexto, Michel Temer tem a chance de ouro de entrar para a História como o presidente que recolocou o Brasil nos trilhos. A escolha de uma equipe econômica qualificada foi fundamental, embora seja apenas o primeiro de muitos passos. A seu favor, o presidente tem o diagnóstico correto dos problemas fiscais, a disposição de solucioná-los e uma habilidade política reconhecida pelos próprios parlamentares para negociar temas impopulares, como a reforma da previdência. E, apesar da pouca popularidade, goza da torcida da maioria dos brasileiros, o que pode ser aferido nos índices de confiança.

Já o grande risco para o governo Temer é frustrar as expectativas de empresários e consumidores e sucumbir ao perigoso jogo eleitoral de 2018. Qualquer deslize nesse tema não seria perdoado pelo Congresso Nacional. Na segunda-feira 1º, em reunião com os líderes da base, o presidente reafirmou a disposição de não disputar a reeleição, deixando a disputa aberta aos partidos aliados. Esse compromisso público é fundamental para manter a base coesa em torno do seu programa de governo. Está nas mãos de Temer aproveitar esse clima amistoso e olímpico – sim, o sucesso da Rio 2016 também pode ajudar – o mais rápido possível para arrumar a economia, sob pena de ver as curvas das expectativas declinarem novamente. Afinal de contas, a confiança no governo não é ad aeternum.