O economista Li Zuojun bem que poderia ser comparado ao seu colega americano Nouriel Roubini, mundialmente conhecido por ter previsto o colapso financeiro dos Estados Unidos em 2008. Por conta disso, Roubini acabou ganhando o apelido de “Dr. Apocalipse”, por suas repetidas análises negativas sobre a economia global. Na China, porém, bastou uma previsão feita em setembro de 2011 por Zuojun, que é diretor do Centro de Pesquisa do Conselho de Estado chinês, e um dos mais respeitados acadêmicos da terra de Mao Tse Tung, para que seu nome entrasse no radar dos mercados, como sinônimo de chuvas e trovoadas. 

 

79.jpg

Celulose em alta: o comércio brasileiro para a China cresceu 21,2%

entre janeiro e julho deste ano. À esquerda, estoque de eucaliptos

da Eldorado Brasil

 

Há exatos dois anos, ele previu que o seu país viveria uma bancarrota no setor bancário e o estouro da bolha imobiliária, até a metade de 2013. Na segunda-feira 2, porém, as bolsas asiáticas estavam longe de lamentar qualquer movimento adverso da economia. Ao contrário, fecharam em alta depois da divulgação dos resultados de produção industrial de agosto no país, acima das expectativas. Previsões sobre o futuro chinês se multiplicam diariamente pelo seu papel preponderante no planeta. As mais recentes davam como certos os efeitos colaterais para o restante do mundo, depois que o Partido Comunista optou por um crescimento mais lento, incentivando mais o consumo e (um pouco) menos a produção. 

 

Para os exportadores brasileiros, porém, essas projeções têm o efeito dos horóscopos diários dos jornais. Se alguém levá-las a ferro e fogo, corre o risco de perder o bonde da história. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, as vendas para o principal mercado asiático cresceram 9,2%, entre janeiro e agosto deste ano (leia quadro). Uma das companhias que contribuíram para esse crescimento foi o frigorífico JBS, que abastece o mercado chinês a partir da sua fábrica na Austrália. “Nossas vendas para lá subiram 70% em 2013”, diz Wesley Batista, CEO do grupo. “Em 2012, eles importaram 67 mil toneladas de carne do mundo todo. Neste ano, foram 400 mil.” 

 

80.jpg

Wesley Batista, presidente da JBS: ”Nossas exportações para a China

cresceram 70% neste ano”

 

O ex-embaixador brasileiro na China Clodoaldo Hugueney lembra que o setor de alimentos deve fortalecer a relação bilateral por muitos anos. “Os chineses vão depender cada vez mais de soja, milho, algodão e carne”, diz Hugueney. “O Brasil pode exportar tudo isso para lá.” Além disso, o País tem áreas de excelência, como a cadeia de celulose a partir de eucalipto. “E nesse campo os chineses têm uma necessidade gigantesca.” Mesmo com a desaceleração em curso, o processo de urbanização mantém em alta a demanda por produtos, como fraldas, lenços e papel higiênico. 


“Olhamos menos para as variações do PIB chinês e mais para essas mudanças internas”, diz José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Brasil, que destina 45% das suas exportações para clientes da Ásia. O gigante oriental vem tentando ampliar a produção local de celulose. Mas as terras chinesas são estatais e isso dificulta o investimento. “O Brasil tem renovação de produção a cada seis anos, o menor ciclo de produção do mundo”, diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel. Segundo a entidade, entre janeiro e julho deste ano, o comércio para o país asiático deu um salto de 21,2%, chegando a US$ 859 milhões. Outra frente que pode ser aberta para o Brasil é a venda de equipamentos médico-hospitalares. 

 

A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Hospitalares (Abimo) já começou a organizar missões para ampliar o comércio, que ainda é incipiente. “O potencial de negócios é muito grande”, diz Paula Portugal, gerente de exportações da Abimo. Segundo Uta Schwietzer, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, o intercâmbio de informações vai de vento em popa. “Nesta semana, temos um grupo de empresários chineses chegando a São Paulo, e, em outubro, brasileiros vão para lá”, diz Uta. Por ora, felizmente, as profecias do Roubini chinês ainda não se confirmaram na economia real, uma grande notícia para o Brasil.

 

81.jpg