Num momento em que o País vive um caos logístico, com congestionamentos de caminhões tentando escoar a safra agrícola para os portos, o governo decidiu trocar o comando do Ministério dos Transportes, já de olho no calendário eleitoral. De perfil mais político que o de seu antecessor, Paulo Sérgio Passos, técnico de carreira da pasta, o ex-governador da Bahia César Borges assumiu o cargo na quarta-feira 3 e selou o apoio do Partido da República (PR) ao governo nas eleições presidenciais de 2014. Nas palavras do próprio Borges, sua indicação uniu o útil ao agradável. “O útil foi o partido se alinhando de forma mais robusta com o governo federal, ao mesmo tempo em que a presidenta pegou alguém que já estava dentro da máquina, no Banco do Brasil, e colocou no ministério”, afirmou Borges.

 

47.jpg

Gesto político: a nomeação de Borges, na quarta-feira 3, recoloca o PR na Esplanada

e garante apoio a Dilma em 2014

 

Apesar de marcar o retorno do PR ao comando da pasta, Borges não deve trazer de volta os diretores ligados ao partido que foram substituídos por cargos técnicos na gestão de Passos, na função desde julho de 2011, na esteira da chamada “faxina” ministerial que derrubou seu correligionário, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM). No discurso de posse, no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff elogiou a atuação do ex-ministro e classificou a ida de Borges como um processo de melhora contínua. “Acredito que ele contará hoje com um time muito mais afinado, dentro do Ministério dos Transportes, no Dnit e, também, na Valec, do que no início do meu governo”, disse a presidenta.

 

Obrigada pelo xadrez político a tirar Passos do ministério, Dilma anunciou a indicação do ex-ministro para a diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O posto estava vago desde que Bernardo Figueiredo, hoje presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), foi barrado pelo Senado, em março de 2012. Antes de se despedir, a presidenta desejou a ambos boa sorte “e uma vida cheia de esforços, cheia de preocupações e decisões”. A mensagem foi entendida pelo novo ministro como uma ordem para arregaçar as mangas. “Ela esqueceu de dizer muitas noites sem sono”, brincou Borges no discurso de posse, referindo-se aos desafios que tem pela frente. Uma das dificuldades da pasta é gastar os recursos disponíveis. 

 

O Ministério dos Transportes detém o maior orçamento de investimento da Esplanada – R$ 16 bilhões para este ano –, mas não tem conseguido tirar os projetos do papel. Um levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que apenas R$ 33 milhões (0,2% do total) foram gastos nos três primeiros meses deste ano. Em 2012, quando o governo lançou um programa de investimento de R$ 133 bilhões para os próximos 30 anos, apenas 48% do orçamento havia sido aplicado. Em 2011, a execução havia chegado a 78% do previsto. O plano é ampliar a malha viária com mais 7,5 mil quilômetros de rodovias duplicadas e dez mil quilômetros de ferrovias, construídas pelo setor privado em regime de concessão. No momento, porém, os planos estão sendo refeitos.

 

“Os investidores avaliaram que o retorno sobre o investimento nos projetos que foram detalhados era muito baixo”, diz Bruno Batista, diretor-executivo da CNT. O novo ministro tem experiência de negociação com o setor privado. Foi ele quem levou a fábrica da Ford para a Bahia em 2001, quando governou o Estado. Desde o ano passado, era vice-presidente de governo do Banco do Brasil. Sobre as taxas de retorno, Borges diz que está aberto a negociar, desde que os investidores provem por meio de argumentos “realistas e fortes” que os cálculos do governo estão errados. Mas o ministro parece saber o que se espera dele. Uma de suas primeiras declarações foi de que quer pisar no acelerador.

 

48.jpg