Rupert Murdoch, 80 anos, é conhecido por suas tacadas certeiras na mídia global. Nas últimas seis décadas, o empresário, nascido na Austrália e naturalizado americano, construiu um império  com ativos avaliados em US$ 60 bilhões, e cuja receita atingiu US$ 33 bilhões em 2010. Seu poder é tamanho que ele serviu de inspiração para o personagem Elliot Carver no filme 007 – o amanhã nunca morre. Na história, Carver é um megalômano que pretende usar sua rede de comunicação para dominar o mundo. 

O jeito agressivo de fazer negócio fez com que  Murdoch colecionasse desafetos nos cinco continentes. Muitos deles foram vítimas da força de sua máquina de mídia que reúne alguns dos principais veículos do mundo: o The Wall Street Journal, a rede de TV Fox e o The Times, abrigados sob o guarda-chuva da News Corporation. Nas últimas semanas, porém, Mur-doch tem vivido sob intenso bombardeio. O ápice ocorreu na quarta-feira 13, quando ele foi forçado a desistir de assumir o controle da British Sky Broadcasting (BSkyB), a maior provedora de conteúdo para tevê paga do Reino Unido. Um negócio avaliado em US$ 12,7 bilhões. 

 

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Momento de reflexão: para os críticos, Murdoch terá de repensar o estilo autoritário e anti-ético de conduzir seus negócios

 

Murdoch jogou a toalha em meio aos desdobramentos de um megaescândalo de grampos ilegais e espionagem de centenas de cidadãos, incluindo integrantes da realeza e políticos britânicos. Na lista constam até parentes do brasileiro Jean Charles, morto pela polícia inglesa em 2005. Todos foram vítimas do desvario sensacionalista do News of The World, um dos mais temidos tablóides do Reino Unido. Como credibilidade é a principal matéria-prima do jornalismo, há quem preveja um futuro sombrio para os negócios de Murdoch. Os primeiros efeitos financeiros do escândalo já começam a surgir. Na semana passada, em um único pregão as ações da News Corporation chegaram a cair 7%, na Nasdaq, uma das bolsas de valores de Nova York, causando perda de US$ 6 bilhões no valor de mercado da companhia. 

 

O fechamento do News of The World também deverá produzir um impacto importante, já que sua circulação era de 2,7 milhões de exemplares por dia. Além disso, as denúncias colocaram sob suspeita todos os jornais que Murdoch controla, especialmente nos Estados Unidos. Para complicar, suas ligações umbilicais com o Partido Republicano fazem dele um alvo potencial dos democratas. Na última semana, um grupo de senadores do partido enviou cartas ao procurador-geral e à SEC, órgão que regula o mercado acionário nos EUA, pedindo investigações sobre as práticas empresariais do magnata. As entidades de direitos civis fizeram coro com os parlamentares. Eles levantam a hipótese de que as práticas adotadas na imprensa britânica poderiam estar sendo replicadas no país.

 

Quem ajudou a jogar lenha nessa fogueira foi a direção do jornal Daily Mirror, da Inglaterra, ao insinuar que jornalistas das empresas de Murdoch teriam tentado obter dados telefônicos relacionados às vítimas do 11 de setembro. Só o tempo, contudo, será capaz de mostrar os estragos que essa onda de denúncias terá sobre a vida e os negócios do magnata. Mas uma coisa é certa. Como se diz popularmente, Murdoch ainda tem muita “lenha para queimar”. Dono de uma fortuna estimada em US$ 7,6 bilhões, ele é considerado um empresário influente, que soube cultivar amizades nas altas rodas, incluindo  príncipes e chefes de Estado. Pelo lado econômico, a reação começou com um plano de recompra de ações do grupo, no valor de US$ 5 bilhões, destinado a estancar a desvalorização dos papéis de sua holding. 

 

Analistas estimam que a News Corporation dispõe de US$ 13 bilhões em caixa. No front político, ninguém duvida que ele usará seus contatos no Partido Republicano, para o qual sempre fez doações generosas. Resta saber se essas manobras serão suficientes para estancar a sangria. Afinal, a cada dia surgem novas evidências de que os desvios éticos cometidos pelos jornalistas do News of The World não apenas eram de seu conhecimento como também poderiam ter sido incentivados por ele. Atributos no melhor estilo cidadão Kane estariam no DNA do mogul da mídia.

 

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Mal na foto

 

Os reveses de Rupert Murdoch

 

2011

• Desiste da compra da British Sky Broadcasting, provedora de tevê paga, após escândalo de espionagem  protagonizado por suas empresas

 

• Escândalo envolvendo grampos telefônicos obrigam-no a fechar o News Of The World, jornal britânico fundado em 1843 e cujas vendas somavam 2,7 milhões de exemplares por dia 

 

• O The Daily, primeiro jornal do mundo feito para iPad, fecha o primeiro trimestre com prejuízo de US$ 10 milhões 

 

• Vende o MySpace por US$ 35 milhões. Em 2005, ele havia pago US$ 580 milhões pelo negócio

  

 

2004

• Manda publicar matéria “exclusiva” na capa do The New Yor Post, cravando o nome do deputado Richard Gephardt como vice na chapa de John  Kerry na corrida à Casa Branca. No mesmo dia Kerry anunciou o senador John Edwards

 

  

1999

• Para terminar o casamento de 32 anos com Anna Murdoch, com quem teve três filhos, Murdoch aceita desembolsar US$ 1,7 bilhão. Trata-se do mais caro acordo de divórcio de que se tem notícia