As estatísticas e os índices econômicos não deixam dúvidas. A economia brasileira segue em marcha lenta. Devagar, quase parando. Isso vale para todos os setores. Do automotivo à construção civil, passando pelo de vestuário, como indicam relatórios e estudos feitos pelas mais variadas fontes. Ocorre que mesmo em segmentos nos quais a queda é acentuada, como no da construção civil, que deve encerrar o ano com recuo de 25% em relação a 2014, existem exceções. Uma delas está no nicho de apartamentos de alto e de altíssimo luxo.

Pelo menos é nisso que aposta Efraim Horn, presidente da Cyrela, uma das mais importantes construtoras residenciais do Brasil com faturamento de R$ 5,9 bilhões em 2014. Na semana passada, ele reuniu um seleto grupo de convidados para a avant premier do One Sixty, uma torre de 27 andares encravada na Vila Olímpia, bairro nobre da cidade de São Paulo. A expectativa é que o empreendimento alcance um Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 400 milhões. Mas de onde virão os clientes disposto a desembolsar entre R$ 6,7 milhões e R$ 23,4 milhões?

“Nosso foco são as pessoas que buscam exclusividade e sofisticação”, diz o empresário. Mais que apenas lançar uma nova torre residencial, a ambição do presidente da Cyrela é criar uma referência para o segmento imobiliário de alto luxo na América Latina. De fato, o projeto impressiona nos mínimos detalhes. A concepção ficou a cargo do premiado estúdio londrino YOO, que tem entre seus sócios o badalado designer francês Philippe Starck, que se tornou referência global de sofisticação e possui projetos espalhados por 49 cidades de 30 países.

É ele quem assina a poltrona na qual Horn posou para a foto que ilustra esta reportagem. O imponente lustre do hall que dá acesso ao apartamento modelo decorado feito de cristal Baccarat na cor preta, avaliado em R$ 550 mil, também saiu de sua prancheta. “Vamos doar os lustres e as cadeiras para que sejam incorporados às áreas comuns do prédio”, afirma Horn. Entre a assinatura do contrato e o desenvolvimento do projeto se passaram quase 12 meses. Neste período, o empresário foi três vezes a Londres.

Integrantes de sua equipe de design e de relacionamento se revezaram no percurso São Paulo-Londres tantas vezes que a Cyrela acabou alugando um imóvel na capital britânica. A dobradinha entre a Cyrela e a YOO será estendida também para o Rio de Janeiro, em 2016. As idas e vindas à sede do estúdio londrino serviram para fazer ajustes no tipo de material que seria empregado, além de deixar a decoração mais ao gosto do consumidor brasileiro. “Precisamos trabalhar com o máximo de fornecedores locais, caso contrário a obra fica inviável, pois corremos o risco de ter os produtos retidos na alfândega”, diz o presidente da Cyrela.

Vencida esta etapa, coube ao escritório paulistano Carlos Rossi Arquitetura cuidar do projeto arquitetônico. Por sua vez, o paisagismo do One Sixty coube a Benedito Abbud. A crença de Horn neste filão de alto luxo não se resume ao One Sixty. Tampouco suas apostas em parcerias com nomes globais. A outra tacada do empresário é o Cyrela by Pininfarina, no Itaim, outro bairro da rica Zona Oeste da cidade de São Paulo. Trata-se da segunda dobradinha da construtora com o mítico estúdio italiano que desenhou a Ferrari.

O primeiro fica em frente ao One Sixty e foi lançado em setembro do ano passado. Até agora, 70% dos apartamentos compactos, de 50 m², foram comercializados por até R$ 1,5 milhão. Com isso, a Cyrela fortalece sua marca como sinônimo de sofisticação, apesar de operar também com outras faixas da pirâmide de renda. “O mercado imobiliário enfrenta muitas dificuldades”, afirma Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP. “Mas as oportunidades existem, especialmente no segmento de alto luxo.”