08/12/2010 - 21:00
A aposta na sustentabilidade se transformou em uma das principais ferramentas da estratégia da gigante alemã Siemens, conglomerado industrial que fatura € 76 bilhões por ano.
Essa vertente vem se revelando benéfica em várias frentes. Primeiro porque serviu para engordar os ganhos da empresa. No balanço de 2009, 36% de seu lucro, ou € 28 bilhões, foi obtidos com produtos e serviços verdes.
Segundo porque ajuda a limpar a imagem da Siemens que, em 2007, se viu diante de um megaescândalo de corrupção, que envolveu funcionários baseados na Alemanha, na Argentina e nos Estados Unidos.
“Estamos provando que ganhos econômicos e ecologia podem andar juntos”
Peter Löscher, presidente mundial da Siemens
O caso de pagamento de propinas – tratado com total transparência, já que ela se declarou culpada de imediato – arranhou o prestígio da corporação. Hoje, mais que uma forma de ajudar a reverter esse mau momento, os alemães veem na ecologia um grande filão de negócios.
“A fatia do lucro obtida com esse portfólio deverá saltar dos atuais € 28 bilhões para € 40 bilhões até 2014”, diz à DINHEIRO Peter Löscher, presidente mundial da Siemens. Para isso, a companhia está se movimentando como nunca. Recentemente, ela reuniu, na Cidade do México, prefeitos de capitais latino-americanas.
Na ocasião, apresentou um trabalho encomendado à consultoria britânica Economist Intelligence Unit: o American Green Index (Índice de Cidades Verdes, em português). Ele lista o desempenho ambiental de 17 cidades da América Latina e deverá funcionar também como mais um argumento de venda de seus produtos.
E não são poucos. O lado verde da Siemens está espalhado por áreas que vão desde lâmpadas econômicas até turbinas eólicas, passando por trens de alta velocidade. No setor de transporte, além de fabricar produtos, ela também atua como consultora de projetos.
O local escolhido para sua divulgação não poderia ser mais apropriado. A capital mexicana figura entre as mais caóticas do mundo. O transporte público é ineficiente. Ônibus velhos e táxis antigos lançam toneladas de dióxido de carbono (CO2 ) na atmosfera.
Com a modernização do sistema seria possível reduzir as emissões de CO2 em 15,2 mil toneladas de carbono até 2012. Mas tudo isso ainda não passa de um plano. Os táxis e ônibus que compõem esse pacote eram vistos apenas do lado de fora do pavilhão construído pela Siemens especialmente para o evento.
Energia ao mar: A parceria com a Marine Current Turbines colocou a
Siemens no lucrativo mercado de turbinas eólicas
A guinada verde da companhia tem como base a adoção de iniciativas, em muitos casos, simples. São tecnologias voltadas à melhoria da produtividade ou para a preservação dos recursos naturais. Um bom exemplo acontece em Cingapura. Lá, a Siemens construiu uma estação de tratamento de esgoto que converte esse insumo em água potável. Hoje, o sistema responde por 20% do consumo da cidade-Estado.
Para sensibilizar os possíveis clientes, a equipe comandada por Löscher tem na ponta da língua o ganho potencial de cada projeto. Um prédio que utiliza fontes renováveis de energia (solar ou eólica), além de redes inteligentes (conhecidas como smart grid), tem potencial de reduzir em até 60% a conta de luz.
Esse princípio vale também para projetos de fôlego, como hidrelétricas. O governo da Flórida (EUA) encomendou em julho seis turbinas a gás para uma usina energética. A estimativa é de que o equipamento garanta uma economia final de US$ 1 bilhão.
“Nós estamos provando que ganhos econômicos e a ecologia podem andar juntas”, diz o presidente mundial da Siemens. Com isso, além de ampliar suas receitas, os alemães põem em marcha o plano para melhorar a imagem da corporação.
“No caso de corrupção envolvendo a Siemens, o mais importante é que ela continuou fazendo o que sabe melhor e se mostrou arrependida. É isso que realmente importa”, pondera o consultor José Roberto Martins, dono da Global Brands.
O trabalho encomendado pela Siemens à Economist Intelligence Unit servirá ainda como base para as ações no Brasil. Por aqui, a companhia fatura R$ 4,6 bilhões, dos quais cerca de 30% com produtos do portfólio verde.
O estudo apontou que Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Rio de Janeiro e São Paulo estão acima da média no quesito sustentabilidade. A campeã é Curitiba (PR). Apesar desses resultados, ainda existe muito a ser feito para tornar essas cidades, de fato, verdes.
De olho em megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, a Siemens espera vender soluções em todas as áreas: do transporte à energia, passando pelo segmento médico. Os alvos prioritários, porém, são os setores de energia e transporte.
Nesse último, seus dirigentes começaram a costurar com a Prefeitura de São Paulo um novo sistema de transporte. Em parceria com a gaúcha Agrale, os alemães estão desenvolvendo um modelo de ônibus híbrido que eles esperam ver circulando pelas ruas de São Paulo.
O apelo ecológico – o veículo emite 30% menos CO2 que um modelo convencional – serve de ponta de lança da estratégia da empresa, que não esconde a ambição de modernizar também o metrô da cidade, usando isso como vitrine para projetos em outras capitais.
Enviado da Cidade do México