É possível fazer as coisas acontecerem mesmo em um cenário de incertezas.” A mensagem otimista é de Jorge Hereda, presidente da Caixa Econômica Federal. O executivo aposta no crescimento da economia e na expansão do crédito, combinados com a queda da inadimplência e do desemprego. Para aproveitar essa bonança, a instituição estatal conseguiu um reforço no caixa. Na sexta-feira 21, o Ministério da Fazenda informou que a Caixa vai receber um aporte de R$ 13 bilhões, que tornará possível conceder mais R$ 120 bilhões em novos empréstimos. O cofre reforçado vai sustentar um agressivo programa de expansão. Até 2014, a meta é abrir duas mil novas agências, inaugurar cinco mil lotéricas e cadastrar quatro mil correspondentes bancários. 


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Jorge Hereda, presidente da Caixa Econômica Federal: “Vamos ampliar

a linha de produtos e buscar mais clientes, pois o objetivo

é crescer de maneira orgânica, sem comprar ninguém”

 

Para isso, serão recrutados 12 mil trabalhadores. “Esse aumento de capital vai permitir que a Caixa mantenha o ritmo de crescimento de seu crédito, que tem ficado entre 35% e 40% ao ano”, diz Hereda. Em 2008, a fatia do mercado era de 6%. Em 2012, esse percentual cresceu para 14%. Parte desse montante, R$ 3,8 bilhões, vai para projetos de infraestrutura. Outros R$ 3 bilhões vão financiar material de construção e bens de consumo duráveis para pessoas físicas, com foco na baixa renda. A Caixa quer ganhar mercado em um momento de expansão acelerada dos bancos privados. No segundo semestre de 2011, o Bradesco investiu R$ 1,1 bilhão para abrir 1.003 agências e contratar 5.900 funcionários.

 

O objetivo do governo com a medida – que contemplou o Banco do Brasil com R$ 8,1 bilhões – é dar mais fôlego aos bancos estatais. Um efeito colateral desejado por Brasília é que a competição ampliada force os bancos privados a reduzir suas taxas de juros. Porém, para o economista Roberto Troster, especializado no sistema financeiro, o impacto será limitado, pois não corrige os problemas estruturais do mercado. Segundo ele, ainda é preciso enfrentar ineficiências como o custo dos depósitos compulsórios e o Imposto sobre Operações Financeiras. “Se o objetivo do governo é fazer com que as taxas caiam, será necessário alterar a regulação do setor”, afirma o economista.

 

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Foco na linha branca: a Caixa vai financiar móveis e bens de consumo durável,

com taxas de juros entre 0,9% e 1,5% ao mês

 

A meta da Caixa, hoje na quarta posição do ranking brasileiro por ativos, com R$ 315 bilhões em empréstimos, é figurar entre os três maiores do mercado. “Vamos fazer isso de maneira orgânica, sem comprar ninguém”, diz Hereda. Para isso, será preciso ter novos produtos para buscar novos clientes. Hereda lançou novas linhas, como o cartão Moveiscard, para financiar a linha branca e móveis, com taxas entre 0,9% e 1,5% ao mês. Outra iniciativa inédita é a entrada no crédito agrícola, até agora praticamente um monopólio do Banco do Brasil. O produto está sendo testado em 70 agências desde 12 de setembro e o objetivo é emprestar R$ 2 bilhões em um ano. Hereda não pretende concorrer com o BB. 

 

“Um banco com a capilaridade da Caixa não pode deixar de ter esse produto”, diz. Ele traça um paralelo com os empréstimos imobiliários, nos quais a instituição, liderada por Aldemir Bendine, entrou recentemente. “Nenhum banco trabalha se não oferecer crédito imobiliário, mas quem conhece esse negócio é a Caixa, e os outros terão de remar muito para chegar ao nosso nível de entendimento.” A Caixa concentra 72,6% do crédito para a habitação e, ao final do primeiro semestre, sua carteira alcançou R$ 177,2 bilhões, alta de 37,1% sobre 2011. Há espaço para mais. O programa Minha Casa Minha Vida deve chegar à marca de dois milhões de casas em outubro, e 90% dos contratos estão nas mãos da Caixa. 

 

No início de setembro, o subsídio governamental subiu de 90% para 95% do valor do imóvel no caso dos candidatos que recebem de um a três salários mínimos, a Faixa 1. “É natural que haja ajuste nas faixas 2 e 3, alterando limites de renda e taxas de juros”, diz Hereda, sem dar mais detalhes. No crédito corporativo, a novidade são empréstimos para investimentos em infraestrutura dos setores públicos e privado, com recursos de R$ 6 bilhões, o programa denominado Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa). Essa é a terceira modalidade de crédito da instituição voltada para a infraestrutura. “A Caixa aposta em novidades para não deixar o mercado na zona de conforto”, afirma Hereda.

 

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