Forjado num mercado que durante décadas de um passado recente teve na instabilidade das regras, nos ziguezagues da condução econômica e na incerteza quanto ao amanhã, sua marca registrada, o empresário brasileiro transformou-se num otimista de carteirinha. A frase de Joesley Batista, presidente da J&F, a holding que controla o frigorífico JBS, o maior produtor de carne do mundo, segundo o qual “em Goiás, quando está ruim, está bom. Pode ter morrido a mãe, que continua bom”, não se limita a explicar o estado de espírito dos homens de negócios do Cerrado goiano. Ela pode ser extrapolada aos quatro cantos do território e comprova que a crença num futuro melhor para sua empresa e para o País está no DNA do empreendedor brasileiro. 

 

80.jpg

Cenário favorável: Flávio Rocha, da Riachuelo, investirá R$ 400 milhões

na abertura de 40 novas lojas

 

Não por acaso, essa é a principal conclusão de uma pesquisa realizada com exclusividade para a DINHEIRO pela empresa americana de recrutamento e seleção Robert Half. Entre novembro e dezembro do ano passado, a consultoria ouviu 294 empresários, presidentes e executivos de empresas nacionais e estrangeiras, abertas e fechadas. O cenário que emerge dessa bateria de entrevistas é claro. O empresário brasileiro está cautelosamente otimista em relação a 2013, apesar do cenário difícil e apertado deixado para trás em 2012. “O ano passado foi decepcionante em termos de crescimento, mas isso não tornou os entrevistados pessimistas”, diz Fernando Mantovani, diretor de operações da Robert Half no Brasil.

 

A grande maioria dos empresários, 64,5%, disse estar “otimista” para o ano que se inicia. Comparando-se esses dados com os de uma pesquisa semelhante realizada no fim de 2011 para antecipar as perspectivas para 2012, nota-se que os “muito otimistas” diminuíram de 12,5% para apenas 3,7%, mas os “otimistas” aumentaram em número – eram pouco mais de 60% no fim de 2011. O presidente da rede de varejo Riachuelo, Flávio Rocha, é, sem dúvida, um dos representantes do seleto grupo dos “muito otimistas”. Com 167 lojas, espalhadas por 23 Estados e o Distrito Federal, o que lhe garante uma grande capilaridade e capacidade de identificar as tendências do consumo no País, o grupo fará um investimento recorde neste ano, de R$ 400 milhões, para abrir pelo menos 40 novas unidades. 

 

Com 22 milhões de clientes no cartão Riachuelo, dos quais 90% da classe C, Rocha vem surfando na onda da expansão da renda dos consumidores emergentes, e fidelizando essa clientela. “O Brasil está crescendo como um País de classe média e nós estamos crescendo junto”, diz Rocha. O segredo do sucesso da Riachuelo para atender sua clientela não está no preço, mas na sofisticação de seus produtos promovida nos últimos anos. Desde 2010, a empresa investe em coleções feitas por encomenda por estilistas famosos. “Nosso consumidor passou a ter mais acesso às informações e a dar mais atenção às grifes”, afirma o empresário, que fechou parcerias bem-sucedidas com Fause Haten, Cris Barros, André Lima, Huis Clos, Juliana Jabour, Maria Garcia e Martha Medeiros. 

 

81.jpg

Mercado de capitais em alta: José Olympio, do Credit Suisse (à esq.), e Clóvis Meurer,

da Abvcap (à dir.), projetam grandes operações em 2013

 

“Não é mais vestuário, é moda mesmo”, diz. A aposta mais recente se deu com a Daslu, símbolo do luxo made in Brazil, que criou uma coleção exclusiva para a Riachuelo. Rocha está convencido de que a economia crescerá, neste ano, bem mais do que em 2013. Essa mesma percepção é compartilhada por 46,3% dos entrevistados pela pesquisa da Robert Half. Para os especialistas, há motivos de sobra para contar com um bom desempenho da atividade econômica em 2013. O último boletim Focus, do Banco Central de 2012, indica um crescimento econômico de 3,3% para o período, e outras estimativas são ainda mais otimistas. Segundo um estudo da Swift, cooperativa internacional de bancos para facilitar a transmissão de informações financeiras, a economia brasileira deverá crescer 1,2%, no primeiro trimestre, acima da média das estimativas do mercado brasileiro. 

 

“Pelo nível de transações financeiras e remessa de divisas, é possível perceber que a economia está mais aquecida do que parece”, diz a economista carioca Christina Hutchinson, CEO da Swift no Brasil. Ao mesmo tempo em que afirmam estar relativamente cautelosos com relação ao desempenho da economia, os empresários dizem estar muito confiantes em suas próprias companhias. Essa convicção vem norteando uma firme intenção de investir. Quase 60% dos entrevistados dizem pretender investir mais em 2013 do que no ano anterior. Aqui, avalia Mantovani, há um ponto importante: cerca de 71% desse grupo afirmou que o dinheiro a ser desembolsado vai destinar-se à tecnologia, visando melhorar a produtividade da empresa. 

 

Essa disposição vem sendo notada pelos executivos dos bancos de investimento. José Olympio Pereira, CEO do Credit Suisse Brasil, avalia que, após dois anos fracos, em 2011 e em 2012, o mercado de capitais deverá retornar com força em 2013. “Haverá pelo menos quatro grandes operações de abertura de capital”, diz ele. Uma delas já é conhecida, a da BB Seguridade, empresa do Banco do Brasil que concentra as atividades de seguros, previdência e capitalização, e que deverá movimentar pelo menos R$ 5 bilhões. Outras que deverão seguir o mesmo caminho são a Votorantim Cimentos, Atacadão, Telefônica Latinoamérica e Smile. Na ponta do lápis, os executivos de bancos de investimento esperam que os toques de sino no pregão da BM&FBovespa movimentem R$ 20 bilhões, mais de seis vezes a cifra de 2012.

 

82.jpg

Confiança empresarial: Fernando Mantovani, da Robert Half, diz que a forte demanda

por mão de obra mantém o consumo aquecido

 

Uma consequência dessa movimentação é que o mercado de trabalho, muito próximo atualmente ao pleno emprego, se mantenha aquecido. Quase 40% dos entrevistados disseram pretender contratar mais do que em 2012. “Há uma forte demanda por mão de obra que não será suprida rapidamente, o que dificulta as contratações, mas sustenta expectativas de que o consumo permanecerá aquecido”, diz Mantovani. Trabalhadores empregados e sem temor de perder o emprego são o melhor estímulo para o consumo, pois, uma vez sanadas as dificuldades com a inadimplência – que comprometeram os resultados dos bancos nos primeiros trimestres de 2012 – o movimento natural é de continuidade do consumo com base no crédito. 

 

“A ascensão da Classe C não é uma novidade, mas continuará a exercer uma influência muito positiva sobre a economia”, diz José Olympio, do Crédit Suisse. “Ainda há um grande espaço para investir e produzir.” A pesquisa também levantou os fatores que deixam os empresários pessimistas. O principal deles é a crise internacional, em particular a situação na Europa, que aparece com 38%. Em segundo lugar, com 25,2%, estão os problemas da infraestrutura brasileira. Da mesma forma, figuram na lista a carga tributária elevada, com 33,5%, e a escassez de mão-de-obra qualificada, com 24,4%. Como esses problemas podem ser considerados uma boa notícia? “Não são problemas novos, são dificuldades com as quais os empresários brasileiros estão acostumados a lidar”, diz Mantovani. Por isso, apesar da lista de dificuldades, quem conhece o mercado conta com um apetite saudável por parte dos investidores interessados em comprar participações em empresas fechadas.

 

Segundo Clóvis Meurer, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), a captação de recursos por parte dos fundos de capital de risco deve chegar a R$ 6 bilhões neste ano, 50% superior ao montante de 2012. “Estamos otimistas, apesar de 2012 ter ficado abaixo das expectativas”, disse Meurer, durante um seminário realizado em São Paulo, no início de dezembro. Encabeçam a preferência dos investidores os setores de infraestrutura, agronegócio e os das empresas voltadas para o mercado interno. Ou seja, o ano que se inicia promete ficar na memória como um período de crescimento sustentável e equilibrado, com efeitos benéficos sobre a economia. Um ano, enfim, para não esquecer.