17/10/2012 - 21:00
O empreendedor Bernardo Gomes, presidente da Senior Solution, de São Paulo, recebeu muitos tapinhas nas costas antes de conseguir um investidor para o seu negócio. Isso aconteceu em 2000 quando Gomes fez a primeira rodada de visitas a fundos de private equity em busca de um parceiro para a empresa especializada em software e serviços para o setor financeiro. Em vão. “A reação era positiva, mas ninguém colocou a mão no bolso”, afirma Gomes. Só cinco anos depois, Gomes conseguiu um sócio. Em 2005, o BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, adquiriu 21,5% do capital da Senior Solution. O fundo Stratus também passou a deter 16% da companhia naquele ano. A partir daí, a Senior Solution iniciou uma curva de crescimento com a incorporação de cinco empresas.
Gomes, da Senior: empresa abriu o capital no Bovespa Mais. Com isso, ganhou visibilidade
e acesso a informações sobre gestão e governança
No ano passado, faturou R$ 42 milhões e conta em seu portfólio com mais de 130 clientes entre bancos, gestoras de recursos, seguradoras, corretoras e companhias de grande porte. Com esse faturamento, será que a Bolsa é uma opção para a Senior Solution? A resposta é sim. Em 2010, ela foi listada no Bovespa Mais, segmento de ações voltado especificamente para pequenas e médias empresas. É como se fosse o grupo de acesso das escolas de samba, no qual agremiações menores desfilam para uma grande plateia, podendo ficar conhecidas do grande público. “Ganhamos visibilidade, temos acesso a informações sobre gestão e estamos mostrando a Senior Solution aos investidores”, diz Gomes. Uma das características do Bovespa Mais é a possibilidade de fazer o registro da companhia sem a realização de oferta no momento inicial, como foi o caso da Senior Solution.
Outra vantagem é a redução nos custos, que são absorvidos ao longo do processo até chegar o momento da oferta pública inicial de ação (IPO, na sigla em inglês). “O projeto custou R$ 300 mil, mas sairia bem mais caro se eu não tivesse entrado no Bovespa Mais”, afirma Gomes, que pretende fazer o IPO da Senior Solution nos próximos meses. O Bovespa Mais desempenha um papel fundamental no mercado de ações, pois dá espaço a empresas que estão prontas para fazer o IPO, mas ainda são consideradas pequenas para os padrões brasileiros. “O que chama a atenção é que no Brasil, ao contrário de outros países, só se viabilizam grandes operações”, diz Cristiana Pereira, diretora de relacionamento com empresas e institucionais da BM&FBovespa. Segundo ela, em 2011 a captação média dos IPOs foi de R$ 400 milhões. Em outros países, como Canadá e Reino Unido, há operações de US$ 90 milhões.
Birman, da Arezzo: entrada de sócio-investidor foi fundamental
para que a companhia fizesse um bem-sucedido IPO em 2011
Para uma pequena ou média empresa, no entanto, há um longo caminho a percorrer antes de chegar ao Bovespa Mais. “A companhia precisa se regularizar perante à Receita Federal, criar processos de gestão, ser auditada e, principalmente, o empreendedor vai ter que abrir mão do processo decisório”, afirma Eduardo Klingelhoefer de Sá, chefe do departamento de fundos de Investimento do BNDES, que tem um capital de R$ 500 milhões para investir em pequenas e médias empresas e nas participações societárias do BNDESPar. O dono da companhia precisa estar preparado para a entrada e saída dos novos sócios. “Nenhum investidor é um sócio eterno”, afirma Bruno Aranha, gerente jurídico do departamento de gestão de participações na área de venture capital do BNDESPar, que hoje tem participação em 36 empresas pequenas e médias nas áreas de tecnologia, fármacos, bens de capital e gás.
A Nutriplant, de Paulínia, no interior de São Paulo, é um exemplo do que diz Aranha. A companhia, da qual o BNDESPar detém 5%, foi a primeira a entrar no Bovespa Mais, em fevereiro de 2008. Ao contrário da Senior, ela fez o seu IPO, captando R$ 20,7 milhões – que foram usados para quitar dívidas e expandir a capacidade de produção. “Depois que entramos no Bovespa Mais passamos a atrair os fundos de investimento”, diz Ricardo Pansa, presidente da Nutriplant. A principal dica que Pansa dá para uma empresa média que pretende buscar investidores e abrir seu capital é ter um projeto que mostre a capacidade de se tornar uma grande companhia.
Foi exatamente o que a Arezzo, uma das maiores fabricantes de calçados da América Latina, fez para lançar suas ações na BM&FBovespa no início de 2011 quando captou R$ 565 milhões. Quatro anos antes, a gestora de recursos brasileira Tarpon comprou 25% de participação da empresa por R$ 76,3 milhões. De acordo com Anderson Birman, fundador da Arezzo, isso mudou a perspectiva sobre o negócio. Durante os 40 anos iniciais da empresa, ele lembra que trabalhava para não deixar a companhia quebrar. “A entrada da Tarpon não agregou só capital, mas trouxe expertise para os negócios e conhecimento na parte de gestão vinculada a orçamento”, afirma Birmam. “Essa experiência foi fundamental para nos prepararmos para a abertura de capital.”