O mercado de smartphones tem um duopólio cada vez mais consolidado formado pelas americanas Apple e Google. As duas empresas hoje concentram 92,3% de participação no mercado, segundo a consultoria americana IDC. Há pouco espaço para qualquer competidor fazer uma investida para crescer no segmento. Mas até três anos atrás, a líder era uma empresa que aos poucos parece desaparecer do radar dos consumidores: a canadense RIM, rebatizada recentemente com o nome de sua marca mais famosa, BlackBerry. Depois de sofrer um tremendo impacto com o iPhone – lançado pela Apple em 2007, que vem eclipsando todos os lançamentos da empresa canadense desde então –, a virtual criadora dos celulares inteligentes ficou atordoada, perdida em meio à erosão de seus resultados. 

 

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Thorsten heins, CEO da Blackberry: ”A BlackBerry vai buscar todas as oportunidades

para criar valor para seus acionistas”

 

A reação veio somente neste ano, com uma nova linha de celulares com um sistema operacional moderno, batizado de BlackBerry 10 (BB 10). Mas a demora pode ter sido fatal. A empresa divulgou no fim do mês passado seus resultados trimestrais e, pela primeira vez, o desempenho do BB 10 seria exposto. Entre março e maio, a empresa vendeu 6,8 milhões de celulares, porém menos da metade, 2,7 milhões, eram modelos BB 10. As ações da BlackBerry caíram cerca de 30% depois da divulgação do balancete. Em conversa com os acionistas, o CEO Thorsten Heins pediu paciência. 

 

“Nós estamos ainda em meio a uma grande transformação da empresa”, disse. Detalhe: sintomaticamente, o QG da BlackBerry, onde ocorreu o encontro, está localizado em Waterloo, no Estado de Ontário… Na ocasião, descreveu 2013 como um ano de “investimentos” da empresa. Antes de voltar a obter lucro, a companhia planeja uma série de ações. Entre elas, lançar novos produtos, abrir o BlackBerry Messenger – famoso serviço de mensagens da empresa – para ser usado também em outras plataformas e focar o mercado corporativo, área em que a canadense tem tradição desde que lançava pagers, no final dos anos 1990. 

 

No entanto, a maior parte dos analistas está convencida de que o mercado corporativo cada vez mais se inclina para a chamada “consumerização”, neologismo horroroso derivado da palavra inglesa consumer (consumidor) para descrever a tendência de os funcionários das empresas ditarem os aparelhos que querem usar também no horário de expediente. Do ponto de vista do departamento de tecnologia da informação das empresas que passam pela “consumerização”, quanto menos sistemas operacionais, menor o custo e maior a segurança. Ultimamente, a maioria adapta seus processos para os aplicativos desenvolvidos para o iOS, o sistema da Apple, e o Android, do Google, os mais populares. 

 

Além delas, a Microsoft vem ganhando terreno nos celulares com um argumento irresistível para os desenvolvedores de software: integração com o sistema Windows 8, a última versão do programa líder no mercado de computadores. Para o departamento de TI das firmas também se trata de uma linguagem familiar. A sinergia deu resultado e a BlackBerry foi empurrada para fora do pódio do mercado de smartphones. Segundo a IDC, o Windows Phone, que tem como principal fabricante a finlandesa Nokia, é hoje o terceiro sistema operacional mais popular do mundo, com 3,2% de participação. É também o celular que mais cresce em participação. A BlackBerry vem em quarto lugar, com 2,9%. 

 

“O resultado do Windows Phone valida a estratégia adotada por Microsoft e Nokia”, disse Kevin Restivo, analista sênior da IDC. O resultado disso é o encolhimento da base de usuários da BlackBerry, que, entre o último trimestre do ano passado e o primeiro trimestre de 2013, caiu de 76 milhões para 72 milhões de usuários. Recuperar esses consumidores será complicado. Diante desses números negativos, Heins foi pressionado na reunião da semana passada a falar sobre estratégias alternativas para reverter o quadro. 

 

“A BlackBerry vai buscar todas as oportunidades para criar valor para seus acionistas”, afirmou. As declarações deram a entender que a companhia pode trabalhar com licenciamento de tecnologias ou ainda negociar uma possível aquisição. No ano passado, antes do lançamento do BB 10, eram fortes os rumores de que a coreana Samsung poderia comprar a empresa de Heins. Analistas apontam que esse aceno do CEO foi o principal motivador para as ações subirem quase 1% na terça-feira 9, dia em que a declaração foi feita. No verbo, parece tudo dentro dos conformes. Agora, os acionistas querem ver a verba. 

 

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