17/06/2016 - 20:00
Há cinco empresas que se sobressaem sobre as demais no ambiente digital. O Facebook, por exemplo, lidera em redes sociais. O Google é imbatível em buscas. A Apple controla o ambiente de hardware. A Amazon mantém sua supremacia no comércio eletrônico. A Microsoft domina o ambiente de softwares corporativos. Em seu habitat natural, essas companhias têm ampla vantagem, estabelecendo barreiras significativas para a atuação de seus rivais. Essa é uma das razões pela qual, na semana passada, a Microsoft pagou US$ 26,2 bilhões pela rede social para profissionais LinkedIn, na maior aquisição da história da companhia fundada por Bill Gates. “O acordo é chave para nossa ambição de reinventar a produtividade e os processos de negócios”, escreveu Satya Nadella, CEO da Microsoft, em e-mail para os funcionários.
O movimento da Microsoft faz ainda mais sentido em um momento em que dois de seus principais rivais começam a ganhar terreno sobre o ambiente corporativo por conta de suas soluções digitais. O Google é o mais avançado nessa estratégia, com uma série de produtos que concorrem com o pacote de automação de escritório Office. Mas o Facebook também tenta emplacar uma versão de sua rede social para empresas batizada de Facebook at Work. “Estamos assistindo a uma batalha das plataformas”, diz Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo. “A compra do LinkedIn fortalece a Microsoft em seu ecossistema ao mesmo tempo em que é defensiva em relação ao Google e o Facebook.”
O LinkedIn acelera também a migração da Microsoft para o ambiente digital. Nos últimos anos, o computador deixou de ser o centro tecnológico e perdeu espaço para a computação em nuvem e para os smartphones. A companhia com sede em Redmond, no Estado de Seattle, ficou atrás nessa transição ao defender com unhas e dentes o seu reinado no universo dos PCs, onde se sobressaíam o sistema operacional Windows e o Office, seus principais produtos. A escolha do indiano Nadella como presidente da Microsoft, no lugar de Steve Ballmer, em 2014, foi o primeiro passo para que dogmas que pareciam instransponíveis começassem a ser derrubados. “O LinkedIn é a plataforma do mundo corporativo”, afirma Roberto Grosman, co-CEO da agência de marketing digital F.biz. “É ali que a Microsoft precisa se conectar.”
O desafio da Microsoft agora é apagar o seu passado de aquisições desastrosas. Ao longo de sua história, a companhia de Bill Gates comprou mais de 150 empresas. Mas foram os grandes negócios que ficaram negativamente marcados. O primeiro deles foi a da empresa de métricas de publicidade aQuantive, que custou US$ 6,3 bilhões, em maio de 2007. Anos depois, ela foi obrigada realizar uma baixa contábil de quase a totalidade do valor pago. Em 2011, o software de comunicação Skype foi arrematado por US$ 8,5 bilhões. O programa, que era sinônimo de comunicação na época, perdeu terreno para os aplicativos de smartphones, como WhatsApp ou Telegram, mas pode ganhar uma sobrevida no ambiente corporativo.
Nenhuma dessas aquisições, no entanto, é tão desastrosa quanto a compra da fabricante finlandesa de smartphones Nokia. Adquirida por mais de US$ 7 bilhões em 2013, a operação está sendo desmantelada pelos resultados pífios que apresentou e que forçaram a Microsoft a fazer uma baixa contábil de US$ 9,4 bilhões, acima do preço que pagou. O sistema operacional para smartphones Windows, que chegou a deter 3% do mercado, conta com hoje com menos de 1%. “A Microsoft comprou a Nokia muito tarde”, diz Rob Enderle, principal analista da consultoria americana Enderle Group. “Eles forçaram os consumidores a usar um sistema operacional que ninguém mais queria comprar.”
Nadella, ao que tudo indica, parece ter aprendido com esses erros. Dessa vez, o LinkedIn será independente e a marca será mantida, assim como aconteceu o site de vídeos YouTube, comprado pelo Google, e pelos aplicativos WhatsApp e Instagram, adquirido pelo Facebook. O executivo Jeff Weiner, que comanda a rede social corporativa, permanecerá como CEO e responderá ao presidente da Microsoft. “Pouca mudança deve acontecer”, escreveu Weiner, em um e-mail para os funcionários. “Vocês terão o mesmo título, o mesmo gerente e a mesma função.” Só o tempo dirá se nada, de fato, mudou.